terça-feira, 28 de abril de 2009

Quatro?



Enki Bilal (2009). Quatro?. Lisboa: Asa

Wikipedia | Enki Bilal

Quatro? encerra a teratologia Hatzfeld, com que Bilal exorcizou fantasmas do colapos da Jugoeslávia. Obra densa, Quatro? não se presta a interpretações fáceis na sua visão distópica de um futuro de obscuro clericalismo onde os três orfãos da guerra acabam por se reunir, sob influência de uma enigmática personagem alienígena que oscila entre o bem e o mal.

Bilal continua igual a si próprio e este album de banda desenhada não desilude. O poderoso grafismo que oscila entre um concreto que se dilui em manchas nebulosas e as visões surreais transmite uma certa ideia de individualismo perdido entre forças ocultas que estruturam as sociedades que é característico da obra do autor. Fiel à tradição europeia do album de banda desenhada, produto artístico por mérito próprio, Bilal desenrolou a sua história ao longo de uma década, fugindo ao imediatismo do lado mais comercial da BD.

Quatro?, em conjunto com os restantes livros da tetralogia, misturam absurdo e distopia, obrigando-nos a recordar um dos momentos mais absurdos e distópicos da história da europa contemporânea, que nos legou Sarajevo como um monumento à crueldade e a implosão violenta de um país em facções separadas apenas por nuances culturais, algo que consideravamos impossível numa europa moderna e cada vez mais unida.