O escândalo do dia prende-se com erros ortográficos na tradução dos menus de ajuda do GCompris, uma potente suite de jogos didácticos que corre no Linux Caixa Mágica.
À habitual exposição mediática dada a estes casos por editores em busca de notícias chocantes e jornalistas apressados juntam-se deputados em busca de exposição mediática que por muito entendidos que pareçam ser em leis e pareceres nitidamente pouco percebem de questões digitais. A reacção do ministério - ordenar a desinstalação do programa - é pura estupidez (mas estamos a falar do ministério da educação, o que não surpreende).
O GCompris agrega um conjunto de jogos (cerca de 80) drill and practice pensados para crianças pré-alfabetizadas e em início de alfabetização que treinam competências de memorização, cálculo mental, raciocínio lógico e introdução ao manuseamento do computador. É desenvolvido por comunidades de programadores sob licença GPL. É totalmente gratuito na versão linux original e simbolicamente pago para Windows (os programadores dizem que é uma forma de estimular o uso do linux). Sendo desenvolvido pela comunidade open source, significa que está constantemente a ser expandido e actualizado (o que torna ridícula a opção do ministério, altamente simbólica da literacia digital dos seus responsáveis). Para o actualizar, basta descarregar o último executável para windows ou em Linux actualizar através do Synaptic, isto caso as actualizações automáticas não tenham dado conta do recado. De acordo com o responsável pela equipe Linux Caixa Mágica, as actualizações mais recentes já corrigiram os ditos erros. Mesmo que não estejam totalmente corrigidos, a comunidade costuma ser muito ágil a responder a este tipo de situações.
Por outro lado, a real dimensão do problema é muito diminuta. A questão surgiu no GCompris a funcionar em Linux. Apesar do grande esforço de colocação e integração de um SO linux no magalhães, tenho sérias dúvidas que a sua utilização seja alargada. Afinal, o windows XP é a primeira opção de arranque do magalhães e aquela que é sem dúvida a mais utilizada, pela habituação ao SO da microsoft. Já me questionaram sobre como anular as opções de arranque do magalhães para arrancar directamente para o windows XP e mais dia menos dia ainda me irão perguntar como é que se limpa o linux para ganhar mais espaço no disco.
Os erros são lamentáveis, é certo, mas não são de longe o maior escândalo às voltas com uma das maiores bandeiras do corrente governo. Ao contrário do que vai sendo comentado nos media, o projecto magalhães está a ter uma aplicação atabalhoada, incoerente e mal pensada. A filosofia build it and they will come não costuma dar grandes resultados e o magalhães não está a ser excepção. Como exemplo, basta observar que a formação dos formadores que irão formar professores para tirar proveitos eficazes do uso do computador na sala de aula está agora a iniciar-se. É um pouco como se nos dessem um automóvel para conduzir e só bastante tempo depois nos levassem a umas lições de condução.
Uma história destas é um doce para os comentadores da paisagem mediática. Quanto a isso, dou uma sugestão: cortem e critiquem à vontade, em nome da liberdade de expressão. Mas para além da indignação, porque não juntar-se a um grupo de desenvolvimento de software livre? Ou à wiki e outras iniciativas abertas que tanto assustam aqueles cuja visão do futuro digital passa obrigatoriamente pela sua conta bancária.