domingo, 1 de fevereiro de 2009
The War Game
Wikipedia | The War Game
Google Video | The War Game
Este documentário brilhante, realizado em 1965 para a BBC, é talvez o grande responsável pelo meu fascínio pela guerra nuclear, fascínio típico de uma criança dos anos 80 que cresceu impressionada pelo conhecimento que, durante décadas, vivemos literalmente debaixo de um enorme guarda-chuva nuclear, com potências antagónicas detentoras de arsenais de mísseis e bombas atómicas capazes de aniquilar várias vezes a vida no planeta. O que faz pouco sentido. Nisto de ecocídios uma vez só parece chegar.
The War Game é apontado como um influente documentário capaz de mudar as consciências, apontando o verdadeiro horror que seria uma guerra nuclear à escala planeada nos anos 60, era do auge das teorias da destruição mútua assegurada (com o apropriado acrónimo MAD na língua inglesa). Recordo-me de ver este filme na televisão e ficar impressionado com as suas cenas, tão distantes da glorificação da violência que normalmente caracteriza o cinema de guerra.
O documentário socorre-se de actores amadores e uma estratégia fílmica inspirada no cinema verité para transmitir uma visão sobre os que se seguiria a um ataque nuclear em larga escala sobre a Inglaterra. Sendo os grandes centros populacionais e alvos militares aniquilados, o documentário centra-se sobre o impacto do cataclisma nuclear na zona rural do Kent. As previsões são aterradoras: submersas debaixo de um mar de refugiados, sujeitas a leis especiais que suspendem todas as liberdades, as autoridades são impotentes perante a destruição total. No rescaldo imediato, os feridos mais graves são deixados para morrer pelos médicos sobrecarregados, abatidos por misericórida pelos polícias armados. As cidades são consumidas por enormes tempestades de fogo. Os sobreviventes das primeiras horas de conflito esperam desagregação social, morte pelos efeitos da radioactividade, fome e total colapso das instituições. O mundo, tal como o conhecemos e concebemos, não seria possível após uma guerra nuclear total.
O documentário passa uma mensagem eficaz dos horrores e inutilidade da guerra nuclear. Procura descrever os efeitos de um ataque recorrendo aos exemplos da história contemporânea - as tempestades de fogo que se seguiam ao bombardeamento das cidades alemãs na II Guerra, os efeitos dos bombardeamentos de Hiroxima e Nagasaki, a desagregação social na Alemanha arrasada pelas bombas aliadas. Apesar de horríficos, estes acontecimentos foram localizados, específicos na sua geografia. Uma guerra nuclear é uma catastrofe totalmente global, afectando a civilização humana à escala planetária.
Os tempos mudam. Os blocos políticos da guerra fria dissolveram-se, sofreram mutações. As armas de destruição massiva dos anos 60 e 70 ainda existem, algumas a enferrujar nos seus silos subterrâneos, outras mantidas em estado de prontidão contra inimigos que já não existem. O perigo da destruição massiva parece afastado. O perigo nuclear contemporâneo reside na proliferação e no terrorismo. Já não tememos a visão de centenas de mísseis a cruzar a estratoesfera com um pré-aviso de quinze minutos até à destruição total. Tememos a bomba suja, escondida numa mala dentro de um avião ou num contentor chegado a um grande porto internacional. Tememos o resultados de esforços nucleares de estados-pária, capazes de colocar uma ogiva atómica num alvo regional.
Dos tempos da guerra fria, restam-nos arsenais de utilidade duvidosa, a arquitectura dos silos de mísseis abandonados e as visões horríficas do que poderia ter acontecido se os responsáveis políticos tivessem carregado no botão.
The War Game pode ser visto no Google Video.