terça-feira, 29 de julho de 2008

Recortes

Para se ser amável, para se falar sem hesitação, para se pronunciar um discurso arrebatador, chegou a julgar-se indispensável o ter grão na asa. (28)

Em Portugal, os faladores tiveram sempre a mais larga aceitação. Quem não o fosse era sensabor e reles; e, se o desgraçado fosse deputado, nunca chegaria a ministro, excepto em caso de recomposição urgente. Audácia e parola, com um poucochinho ao menos de ignorância recomendada, era aqui o mais curto e directo caminho para as grandezas políticas e sociais. (29)

...mas as empresas não se inventaram para fomentar o interesse alheio, e muito menos os interesses morais de uma sociedade qualquer... (36)

... e sendo aquele documento um símbolo do estudo, cheguei a persuadir-me de que se tratava de um papagaio, porque o estudo em Portugal tinha geralmente, como resultante, a faculdade de falar, sem necessidade de pensar. (63)

Cândido de Figueiredo. (2003). Lisboa no Ano Três Mil. Lisboa: Frenesi (edição original em 1892 no jornal Ocidente)