quarta-feira, 11 de junho de 2008

Just in Time

A greve dos camionistas está a por a nú a falha fundamental do conceito económico de produção just in time, que aposta num mínimo de stocks em armazenamento e distribuição e entrega rápida dos bens de consumo. Só que, paralisando o principal meio de distribuição... os bens não saem dos centros de produção, não são entregues aos centros de distribuição. A cadeia é complexa: não se trata só da entrega dos bens do produtor ao consumidor, trata-se principalmente dos materiais e componentes que as teias de produtores necessitam para produzir.

A situação é mais visível nas bombas de combustível. Aqui por Mafra, boa parte encerrou ou avisa que se esgotou o combustível. À entrada das poucas que anda parecem ter combustível, estão a formar-se filas. Paralisando a distribuição, esgotam-se os stocks, e os efeitos em cadeia depressa se fazem sentir ao longo do tecido económico. As empresas são forçadas a parar; muitos trabalhadores perguntam-se já quando é que serão obrigados a faltar ao emprego. Os transportes colectivos avisam que começam a não conseguir garantir o transporte de passageiros. O aeroporto de Lisboa já não reabastece aeronaves.

Sem querer ser alarmista, como estão os tanques dos veículos de segurança, saúde e bombeiros?

Esta paralisação tem razões bem legítimas, mas sinceramente duvido que os camionistas consigam alguma coisa. Quando muito, perante a perspectiva de paralisia geral, o governo poderá acenar com uma qualquer medida paliativa que não resolverá em nada o problema, assente em duas vertentes: extrema dependência de combustíveis fósseis, e especulação financeira à volta dos preços do petróleo. A verdade é que nenhum governo, por mais boa vontade que tenha (ou competência, ou sequer apetência, mas isso seriam outras conversas), não tem capacidade para resolver esta situação. A desregulamentação dos mercados, em nome da cegueira do mercado liver, é total, o que implica que nenhum governo pode, realmente, interferir. Se o fizer, a especulação simplesmente muda de poiso, nunca termina. Talvez alguma concertação internacional, mas isso seria algo extremamente improvável numa era em que os governos dos estados-nação são cada vez mais organismos simbólicos, à mercê dos fluxos transnacionais de capital.

Entretanto, nota-se o nervosismo nas ruas. E a surpresa: em três dias, esta paralisação ameaça congelar o país. Três dias. Sem entrega de combustíveis, o país pára em três dias. Dá que pensar. Nem os mais delirantes voos de imaginação que conceptualizam um mundo pós-petróleo imaginariam esta rapidez.