quarta-feira, 9 de abril de 2008
Visões do Futuro
Arthur C. Clarke (2001). Visões do Futuro. Lisboa: Editorial Notícias.
Recentemente falecido, Clarke legou à posteridade uma visão única do futuro, condensada nos seus contos e romances de ficção científica. -o nome de Clarke é sinónimo de uma certa ficção científica, clássica - porque a passagem do tempo é inclemente para um género literário que olha para o futuro, mas já atenta ao papel da ciência e tecnologia como espinhas dorsais da sociedade humana e não como inventoras de adereços inverosímeis para histórias de aventuras no espaço.
Visões do Futuro apresenta um outro lado de Clarke: o lado de divulgador, de autor que encara a ciência com olhos benevolentes e que procura encontrar na pesquisa científica sua contemporânea uma ideia dos fluxos que modelam a sociedade futura. Originalmente escrito em 1968, e revisto em 1982, esta obra reúne um conjunto de ensaios onde Clarke aborda futuras tendências da tecnologia, deixando bem claro que não está em busca de previsões futurológicas, mas sim a apontar fluxos, que poderão não conduzir aonde esperamos. Nesta obra, Clarke aborda com lucidez a impossibilidade do cepticismo, a exploração espacial, o futuro da investigação científica, o recém-nascido (na altura) mundo da computação e o papel do homem na trasnformação activa do mundo através da ciência. Nalguns casos Clarke foi curiosamente presciente, como ao falar, em 1968, da futura existência de pequenos aparelhos de rádio que, ligados por satélite, permitiriam a comunicação em qualquer ponto do globo (hoje chamamos-lhe de telemóveis, e embora a tecnologia não seja a apontada por Clarke, o princípio é o mesmo), noutros, assumidamente longe do alvo, como numa diatribe dos anos 60 sobre um rosáceo futuro de transportes pessoais baseados em hovercrafts que Clarke conclui, já nos anos 80, com um bem humorado "bem, as coisas não se passaram bem assim.
Visões do Futuro é um livro irremediavelmente datado, e assumido como tal. Vale a sua leitura; muitas das ideias ainda hoje são provocatórias, e o insight de Clarke sobre a nossa fobia à tecnologia é precioso. Uma boa forma de comemorar a vida de um dos nomes maiores da Era de Ouro da Ficção Científica, de um espírito cujo optimismo no papel da ciência contaminou o mundo.