sexta-feira, 11 de abril de 2008
Open Sky
Paul Virilio (2008). Open Sky. Londres: Verso.
Ao ler Paul Virilio torna-se difícil perceber como a sua voz se tornou uma das mais importantes no mapa de ideias que modelam o nosso pensamento sobre as mais recentes tecnologias. Ao concluir a leitura, não deixamos de nos sentir aterrados com a desumanização que Virilio faz transparecer na sua análise da nossa relação com o fascinante mundo novo digital.
Apaixonados como estamos pelas suas potencialidades, deslumbrados pelo desbravar de uma nova fronteira, de um espaço único, abstracto, cujo suporte físico não passa de electrões a fluir em componentes electrónicos, mas que contém conhecimento, capacidades e potencialidades infinitas, estaremos a perder a noção de realidade? Com o virtual cada vez mais presente, com o virtual a imiscuir-se, a invadir o real, trasnformando a abstracção matemática/electrónica em realidade apoiada no dispositivo digital, como fica a nossa relação com o real real, com o real táctil? É impossível não concordar com Virilio que o virtual nos mergulha cada vez mais num solipsismo quase fantasista que acaba por modelar a nossa percepção do real, que projecta no real a virtualização.
Compreender este paradoxo é um passo para compreender as transformações individuais, sociais, políticas e económicas que esta nova sociedade, ainda a nascer, nos começa já a trazer. No entanto, Virilio não é um tecnófobo, crítico da emergência de novas tecnologias. De facto, as tecnologias, e as transformações epistemológicas que trazem consigo, são inevitáveis. Virilio apenas nos avisa, enquanto ouvimos a canção das sereias digitais, para estar atentos, antevendo os escolhos que estão na nossa rota.