segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Barco com Um Milhão de Anos



Poul Anderson (1989). O Barco com Um Milhão de Anos. Lisboa: Europa-América.

Bibliowiki | O Barco com um Milhão de Anos

O sonho da importalidade é um dos sonhos que nos fascina. Quem não gostaria de viver para sempre, assistindo ao girar do tempo e do mundo, imune à morte? É um velho sonho, que a nossa ficção espelha.

Poul Anderson, um dos mestres clássicos da FC, explora neste O Barco com Um Milhão de Anos esse fascínio com a imortalidade. Ao longo dos séculos, foram nascendo seres especiais, perfeitamente normais e humanos, imperfeitos, sujeitos às forças do mundo que os rodeia, mas com uma estranha incapacidade para envelhecerem. São imortais, mas não invulneráveis nem todo-poderosos, tendo de recorrer aos mais curiosos estrategemas para sobreviver nas sociedades em constante evolução. Anderson tece uma história à volta desses personagens, uma história que nos transporta para o tempo das grandes civilizações da história, uma história que se desenrola na Fenícia, no Império Romano, no Império Bizantino, na China clássica, nas florestas do norte gelado, nas planícies do novo continente, na França e Richelieu, na américa dos gangsters e nos anos 70, ameaçados pelo espectro do cogumelo atómico. Uma excelente desculpa para fazer o leitor visitar (ou revisitar) os cenários da História.

A obra termina num ponto mais utópico: após revelarem o seu segredo à humanidade, a imortalidade banaliza-se e os imortais originais tornam-se seres desenraizados, relíquias da velha humanidade numa era que a nova humanidade, imortal, atinge o patamar de desenvolvimento e preocupa-se apenas com a manutenção da estabilidade. Fugindo deste imobilismo, estes imortais partem para as estrelas, partem para novas terras, em busca do desconhecido, acabando por contactar com civilizações alienígenas e continuar, eternamente, as suas viagens de exploração - de exploração da história, das emoções humanas e do espaço galáctico. Sendo imortais, tempo não lhes falta.

O Barco com Um Milhão de Anos é uma obra interessante, que agarra o leitor, particularmente nas partes passadas em épocas históricas. Tem um lado épico, sedutor, de uma longevidade que nos leva das eras primordiais aos futuros mais distantes.