quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Os Anais dos Heechee



Frederik Pohl, Os Anais dos Heechee. Livros do Brasil, 1989.

Os Anais dos Heechee conclui a space opera que Pohl iniciou com Gateway. Infelizmente, à semelhança do volume anterior, Pohl não atinge neste livro nenhum pico de excelência de ficção científica.

O ponto de partida promete: duas espécies, a humana e os Heechee, unidos contra a ameaça representada pelos estranhos seres de pura energia que se encontram isolados num buraco negro. A espada que pesa sobre as espécies é pesada: estes seres são capazes de aniquilar civilizções e suspeita-se que pretendam conduzir o universo a um novo big bang, para controlarem as leis físicas do novo universo ao seu gosto.

Infelizmente, a obra fica-se por eternas ruminâncias sobre o estado de espírito do seu principal personagem. A pouca acção também não é muito esclarecedora, e a principal ameaça não passa de um espectro a pairar sobre jogos políticos e mentais.

O ponto interessante do livro está numa curiosa direcção de especulação do autor, tão ao gosto dos anos 80, com uma ideia de imortalidade atingida pela digitalização da consciência da pessoa, que após a morte física passa a habitar o espaço gigabit, visualização de um espaço virtual assente em sistemas informáticos (mas não em redes). A consciência do ser não se perde, mas a sua percepção de tempo, já não limitada pelos constrangimentos físicos, encolhe, e um segundo passa a ser uma eternidade. Nas descrições de Pohl, o espaço gigabit é concebido como uma imensa virtualidade interactiva, com as subrotinas dos complexos algoritmos que descrevem as personalidades e armazenam as memórias disfarçadas sob uma realidade artificial que mimetiza o real.

Os Anais dos Heechee não são obra de leitura fundamental. Baseado em dois conceitos interessantíssimos, o livro resvala para entediantes ruminâncias. Esperamos uma space opera, mas sai-nos uma soap opera.