sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Comic

Um exemplo alternativo do aumento de complexidade da cultura popular/de massas apontado por Steve Johnson, gostaria de apontar o comic. Durante muito tempo considerado como a menos interessante das vertentes da banda desenhada, o comic transformou-se num produto cultural complexo, atingindo, nos melhores casos, o estatuto de culto precisamente graças à sua complexidade.

É fácil comparar esta evolução, uma vez que o género vive da reciclagem das personagens. Comparar um título clássico dos anos 50 ou 60 com o mesmo título na actualidade permite-nos perceber como é que o género se tornou mais desafiante, apelativo e complexo. Da simplicidade dualista e do grafismo estático evoluiu para uma complexidade quase bizantina, embora mantenha o dualismo, e para um grafismo altamente dinâmico. E isso deve-se à conjugação de dois factores - novas gerações de artistas e argumentistas que queriam fazer evoluir o campo com as necessidades das empresas, de sobrevivência numa paisagem mediática de entretenimento de massas cada vez mais saturada pelo surgir da televisão, do video, dos video-jogos e mais recentemente da internet.

Um dos melhores exemplos é o comic The Sandman, sob argumento de Neil Gaiman, que fez evoluir o personagem ao longo de sessenta edições através de uma complexa teia de pequenas histórias repletas de alusões a outros formatos culturais (de Shakespeare a Cole Porter). O autor criou um todo coerente a partir de um mosaico de interligações que só se tornam aparentes em leituras posteriores.

Ilustra o que Johnson refere no seu livro Tudo o que é mau faz bem como a "sensação de que a cultura popular não está presa a uma espiral descendente de deterioração dos padrões", tornando-se mais desafiante e complexa, e por isso mais interessante.