Nas consultas à ERIC econtrei um artigo sobre tecnologia e educação artística que faz uma afirmação curiosa.
Mayo (2007:48) afirma que "artists, like researchers, create new knowledge through studio practice". Poderemos então afirmar que a prática artística é uma forma de investigação científica?
Os artistas visuais, gráficos, plásticos e digitais fazem continuamente evoluir as percepções estéticas e os conhecimentos técnicos através do seu trabalho em atelier. Mas fazem-no obedecendo a critérios intuitivos baseados na sua sensibilidade. Os artistas desenvolvem continuamente novas técnicas de trabalho, estratégias que são replicáveis, truques de domínio técnico.
Mas não o fazem segundo critérios bem definidos. Quando se elabora uma obra, que nos poderá levar a encontrar novas técnicas de trabalho (algo muito pertinente na new media art), não se definem metodologias de definição de problemas específicos, analisando as fases de definição de um problema. Pode ser colocada uma hipótese, mas não com o rigor e profundidade que é norma no método científico. Não é estabelecido um plano de investigação.
Outros critérios ligados à essência do que é conhecimento científico também não se aplicam, particularmente a racionalidade, o ser sistemático (antes, é uma manta de retalhos de experiências artísticas) e metódico, embora possa ser replicável, e é sempre empírico e cumulativo. As questões ligadas à credibilidade também não estão asseguradas. Podemos, talvez, falar de validade externa se pensarmos que os resultados de um trabalho artístico são geralmente generalizáveis no que respeita às técnicas. Mas as metodologias de trabalho não obdecem aos critérios que garantem a credibilidade da investigação.
Perdoem-me esta estranha comparação, mas creio que Mayo apontou uma questão pertinente relativa ao papel do artista na investigação de novas práticas, que podem ser adaptadas ao contexto educativo do ensino artístico, o meu campo de actuação profissional. Não estou a querer afirmar que o trabalho artístico pretende obter conhecimento científico. Servi-me deste exemplo, de forma descontextualizada, analisando algumas características, como metáfora para ilustrar algumas das características do conhecimento científico e da investigação.
Mayo, S. (2007). Implications for Art Education in the Third Millenium: Art Technology Integration. Art Education Journal, v60, nº 3, Maio de 2007, pp. 45-51, consultado online em http://www.smayo.net/mayo_naea_article2007.pdf a 27 de janeiro de 2008.