sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Leituras

Eyeescapes Eye candy, literalmente, do dia: uma série de fotografias de Rankin que retrata a íris. A sua justaposição é assombrosa.

New York Magazine | The porn myth Naomi Klein (No Logo, The Shock Doctrine) analisa as consequências do acesso fácil ao fruto proibido e chega a uma curiosa observação: sim, a pornografia é altamente degradante, mas o seu maior perigo para o género feminino não está aí. Ao expor a crueza mecânica dos actos sexuais através de representações altamente estilizadas de mulheres quase artificiais, a pornografia está de facto a alterar as percepções sobre o sexo. Longe já parecem ir os tempos em que a simples visão de um corpo nú era o mais potente dos afrodisíacos (não é por acaso que o nú é um dos mais potentes - passe a expressão, temas artísticos) e o erotismo se definia por vislumbres e mistérios. O fácil acesso à pornografia mecanizou o sexo, e criou nas mulheres uma sensação de inadequação com o seu corpo, alicerçada na sensação de que o corpo normal, com as suas perfeições e imperfeições, não pode competir com a perfeição mecânica dos corpos das actrizes da indústria pornográfica. Warren Ellis já havia feito uma observação semelhante, com a sua muito especial e visceral prosa, sobre a influência da pornografia na natureza do acto sexual.

Não deixa de ser curioso observar estas reacções psico-sociais a anos de libertação da sexualidade virtual, à exposição às imagens e videos que ninguém admite ver mas que são uma indústria altamente lucrativa.

CNN | One Laptop a hit in peruvian villages Já que falamos em revoluções sociais, uma vastamente mais positiva. Uma imperdível reportagem que observa o impacto social da introdução do OLPC numa remota aldeia do Peru. Entregue a crianças que frequentam a escola primária, o OLPC é assumido como uma dádiva maravilhosa pelos habitantes das zonas mais empobrecidas do planeta, gente cuja extrema pobreza lhes retira qualquer esperança num futuro para si ou para os seus filhos. Ler sobre crianças que vivem rotineiramente naquilo que a nossa sensibilidade eufemística definiu como exclusão social a utilizarem activamente as ferramentas da sociedade de informação, dentro de casebres iluminados à luz de vela nos arrabaldes da floresta amazónica, enche o coração de esperança num futuro mais justo para a humanidade.

É sempre bom sublinhar: o OLPC não é uma máquina perfeita. O seu valor está na sua visão de dar acesso a ferramentas de tecnologia àqueles que vivem no e abaixo do limiar da pobreza, nas zonas mais esquecidas do planeta.