terça-feira, 6 de novembro de 2007

A turma do futuro

A pensar nas acelarações civilizacionais provocadas pela tecnologia, às voltas com os idealismos robóticos de Hans Moravec e com a acelaração rápida das mudanças tecnológicas, atrás da qual vêem as necessárias mutações sociais, poderia até fazer a pergunta, uma pergunta que Neil Stephenson ou Rudy Rucker adorariam responder: quais serão os nossos alunos no futuro, futuro esse cada vez mais próximo?

Factorizando as variáveis de acelaração tecnológica, investigação em inteligência artificial, redes neuronais, robótica, interconectividade, realidade virtual, realidade aumentada, investigação genética, nanotecnologia e mutações sociais, arrisco uma resposta:

Na heterogénea e conectada sala de aula de realidade aumentada de 2015 (2025 nas escolas públicas portuguesas, se ainda tal conceito ainda existir), uma turma poderá ser constituída pela seguinte tipologia de alunos:

- humanos básicos, talvez designados por humanos 1.0, crianças que por razões religiosas, filosóficas ou mais provávelmente por exclusão económica e social são em tudo semelhantes aos nossos alunos de hoje;

- humanos aumentados, através de implantes electrónicos que lhes permitem percepcionar realidades aumentadas; talvez humanos 1.5, ou alcunhados de "borgs";

- humanos genéticamente modificados, cujas gerações variam de acordo com o state of the art da engenharia genética na altura da sua concepção. O par de gémeos da turma será muito provávelmente um par de clones, indistinguíveis até ao nível do adn;

- algumas inteligências artificiais, a residirem em computadores ou a residirem em robots de aspecto adaptado às suas funções, no caso humanóides, para habituar as IAs a estabelecerem interfaces com os humanos. Apesar de tudo, sendo a inteligência artificial uma eterna promessa, diria que as IAs beneficiariam de apoios adequados a necessidades educativas especiais, sendo só marginalmente mais inteligentes dos que os humanos 1.0;

- núvens de nanomáquinas, cada uma delas um nó fraco e pouco inteligente mas que organizadas num enxame formam redes neuronais autónomas. Possívelmente será a criatura sobretudada da turma;

- e cuidado: aqueles malandrecos que se portam mal no recreio podem muito bem ser máquinas de von Neuman em processo de auto-replicação...

É um voo de imaginação, é certo; mas talvez, talvez... a emergência de IAs e redes neuronais poderá provocar a emergência de consciências artificiais; se hoje nos preocupamos com a infoexclusão, imaginem um futuro onde os mais desfavorecidos económicamente não só não terão acesso às ferramentas da tecnologia como irão beneficiar dos desenvolvimentos em genética que permitem a manipulação das características físicas e neurológicas em direcção a uma maior eficiência humana; e, a pergunta que me despoletou este voo de imaginação: pensando na evolução dos sistemas de tutoria digitais, não seria de todo impensável que, num futuro próximo, o professor participasse na elaboração de sistemas de ensino assistido por computador destinados a ensinar redes neuronais inteligentes.

(desculpem este desvio ao rumo. mas se não formos capazes de imaginar o futuro, a nossa adaptação às inevitáveis transformações sociais decorrentes da acelaração da cultura tecnológica será muito mais difícil..)