"Vamos morrer e por isso somos nós os bafejados pela sorte. A maior parte das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai chegar a nascer. As pessoas potenciais que poderiam ter estado aqui em meu lugar, mas que na verdade nunca verão a luz do dia, excedem em número os grãos de areia do deserto do Sara. Seguramente que nesses fantasmas que não vão chegar a nascer se incluem poetas maiores do que Keats e maiores cientistas que Newton. Sabemos isto porque o conjunto de pessoas potenciais permitido pelo nosso ADN é esmagadoramente superior ao conjunto de pessoas com existência efectiva. Não obstante está ínfima probabilidade, sou eu, somos nós, que, na nossa vulgaridade, aqui estamos..."
Richard Dawkins a falar de algo que Alan Moore, numa das mais belas páginas do comic Watchmen, delineou como um "milagre quântico": um acontecimento com probabilidades muito baixas de acontecer, que no entanto acontece. No momento da concepção de um ser, são milhões os espermatozóides em busca do óvulo. De tantas possibilidades, surge, invariávelmente, um individuo. Todos os outros não chegam, sequer, a ser uma possibilidade.