domingo, 28 de outubro de 2007

V for Vendetta


V For Vendetta

Alan Moore e David Lloyd, V For Vendetta, DC/Vertigo, 1990

Wikipedia | Alan Moore
V For Vendetta Annotations
Wikipedia | V for Vendetta

Originalmente publicado nos anos 80 no comic britânio Warrior, V For Vendetta é um trabalho marcante que assinala um dos mais acutilantes pontos de transição do comic do domínio da historieta infantil para o corrente conceito de romance gráfico.

Obra inquietante, V For Vendetta questiona-se sobre o que aconteceria a uma Inglaterra dominada pelo fascismo, no rescaldo de uma guerra nuclear. Num mundo de poder desmesurado, de nepotismo indisfarçado, de tirania da ideologia, a Inglaterra está esmagada pelas botas cardadas da hipocrisia. Apenas uma força, perturbadora e incoerente, se atreve a manifestar dissidência, e fá-lo causando o máximo possível de prejuízo.

V, personagem icónica, irónica e dúplice, insurge-se de forma inteligente contra o poder instituído, lutando com uma guerrilha de ideias que se capitaliza na consciência dos cidadãos e que expõe as fraquezas da classe dominante, causando a perda do medo social que possibilita o derrube do poder, que potencia a revolução.

V é indefinível, inteligente, violento, saltitando a bel prazer entre o bem e o mal, tão capaz de utilizar os piores métodos torcionários como de sublinhar a profunda elegância da alta cultura. Capaz de explorar as fraquezas do regime, V consegue manipular a sociedade até ao necessário colapso revolucionário, embora acabe por não viver para ver o seu sucesso. No entanto, mais que um homem, ou um übermensch nietzschiano, V, sempre oculto por detrás da sua máscara de Guy Fawkes, é uma ideia imparável.

Vinte anos após a sua publicação, o mundo não mergulhou em guerras nucleares globais, e a democracia, melhor ou pior, domina os sistemas políticos. Mas as lições de V não se tornaram difusas com o passar dos anos; a ideia de ideias inspiradoras, que nos levam a agir para lá dos nossos limite; a corrupção absoluta do poder, a hipocrisia dos poderosos, o uso da violência como forma de controle político, o profundo oportunismo dos mecanismos do poder. Aqui Alan Moore não se enganou, ao legar-nos esta obra, que é uma das mais negras visões distópicas do futuro, equivalente gráfico da distopia clássica que é 1984 de Orwell. O grafismo difuso de David Lloyd vem complentar a escuridão das palavras de Alan Moore.

V For Vendetta é uma obra marcante e imprescindível, que apesar de algumas incoerências provocadas pela inclemência do fluxo da história para com os conceito de futuro, ainda continua muito pertinente nos aparentemente prósperos e livres tempos que correm.