segunda-feira, 1 de outubro de 2007
A Mulher 100 Cabeças
Max Ernst, A Mulher 100 Cabeças, Edições & Etc, 2002
Wikipedia | Max Ernst
La Femme 100 têtes
Giornale Nuovo | La Femme 100 Têtes
Where and when did collage first appear? I believe, despite the claims put forward by several of the pioneers of Dada, that it is Max Ernst who is to be thanked for it, at least as regards the two forms of collage furthest from the original idea of glued paper: photographic collage and the collage of illustrations - Louis Aragon, La Peinture au défi, citado no blog Giornale Nuovo.
Durante o século XX, o mundo da arte foi varrido por inúmeras vanguardas que alteraram a percepção que nós temos do que é arte. Se no dealbar do século XX arte era uma representação cheia de mestria da realidade cicundante, neste dealbar do século XXI a arte ainda busca continuamente os seus limites, em constante diálogo com o devir social, com o novo mundo tecnológico e libertando a expressão numa multiplicidade avassaladora de percepções e de pontos de vista. O processo de pensar e definir o que é arte ainda hoje se encontra em discussão, e continuará. Cada geração de artistas, cada época encontra novos significados. Arte, enquanto expressão da alma humana, será sempre um conceito de definição variável.
De entre as inúmeras correntes artísticas do século XX, uma se destaca pela sua popularidade. Ainda hoje, oitenta anos após o seu surgimento, ainda inspira artistas de todos os géneros e ainda é um campo de criação que surpreende pela sua exuberância. Aliás, a isto ajuda o facto de ser uma das mais compreensíveis correntes artísticas para os leigos em arte. Estou a falar do surrealismo, palavra que imediatamente desperta na mente imagens de relógios a escorrer e paisagens irreais. Alicerçado no onírico e na espontaniedade, o surrealismo depressa cativou o grande público, tornando famosos alguns dos seus maiores artistas. Este amor público pelo surrealismo não se prende só com os seus temas: o surrealismo também "ressuscitou" o gosto pela mestria técnica figurativa, apesar da estranheza das figuras representadas.
É discutível afirmar se Dali foi o maior dos surrealistas. Foi, sem dúvida, o mais exuberante. Pessoalmente, prefiro a frieza de Ives Tanguy e o sentido de humor de Magritte. Não tão amado pelo público, mas muito respeitado pelos artistas como o maior dos surrelistas está Max Ernst, criador de uma vasta obra pictórica e gráfica que levou o surrealismo aos seus limites. Em pintura, criou a técnica da frottage, geradora de texturas visuais que Ernst transformou em paisagens oníricas (e Roger Corman, na sua série de filmes baseados em contos de Edgar Allan Poe copiou para os estranhos genéricos de filmes como The Pit and the Pendulum). Ernst também criou uma obra gráfica coerente, baseada na técnica da colagem, ou collage em termos mais eruditos, técnica aliás muito utilizada pelos mais radicais primos dos surrealistas, os dadaístas.
Na sua obra gráfica, Ernst socorreu-se de imagens banais de gravuras da época que transformava, através da técnica de collage, em visões oníricas, aterradoras, bizarras, angustiantes, providas de uma lógica obscura cujo sentido nos escapa continuamente por entre os dedos. É esta a génese de obras como La Femme 100 Têtes ou Une Semaine de Bontè, onde Ernst publicou, como se quisesse contar uma história, uma história que reflectia a visão fragmentada e onírica do recém-nascido século XX.