Algumas ideias a desenvolver sobre Tecnologias de Informação (desculpem, mas recuso-me a utilizar o amaricado acrónimo TIC) na sala de aula.
- Manipular o computador, manipular o software, são coisas que se aprendem. Perder o medo de manipular o computador é um passo essencial que muitos docentes ainda temem dar. Talvez mais fundamental seja perceber para quê utilizar a tecnologia. Substituir o quadro de ardósia por um quadro electrónico onde se projectam apresentações em powerpoint é repetir o velho modelo. Não é nada que não seria feito, talvez mais eficientemente, com giz e ardósia. na minha humilde opinião, o grande potencial das TI está na produção e interligação de informação. Mais fundamental do que utilizar a tecnologia, parece-me ser criar com a tecnologia. Utilizar as TI como forma de apresentação de conteúdos, por interessante que pareça, é um pouco redutor. As TI, especialmente na forma web 2.0, permitem ir mais além, permitem que o aluno se torne actuante em vez de mero espectador ou manipulador de objectos num ecrã. Modelos como os wikis, os blogs e os sites sociais oferecem aqui importantes pistas sobre como será possível aplicar as TI na sala de aula.
- Antes de se inundar as escolas de computadores, talvez seja necessário dedicar uns momentos a pensar - ou a repensar - a arquitectura do parque informático escolar. Em vez de máquinas potentes, mas de rápido envelhecimento, talvez uma arquitectura baseada em servidores potentes e terminais baratos e modulares, assente sobre uma rede ethernet/wifi robusta, pervasiva e invisível do ponto de vista do utilizador. Para a minha aula, Wacom Cintiqs para todos os alunos era uma boa ideia...
- Não ter medo de libertar as ferramentas na sala de aula. Aqui, falo da minha experiência própria, que desde há um ano que faço coexistir no mesmo espaço os materiais artísticos mais tradicionais com software gráfico e 3D (tudo open source, claro). Integrado na sala, o computador tornou-se não um fim em si mesmo, mas sim mais um suporte de expressão plástica. Os alunos depressa passaram tratar nos mesmos termos ideias como técnicas de pintura com tintas e manipulação de nós em desenho vectorial. Mas esta, é a minha experiência, e ainda não consigo colocar-me na mente, no modo de pensamento, de um docente de uma àrea mais teórica.
Escrevo isto nos momentos iniciais de uma badalada iniciativa governamental de colocar uma multidão de computadores portáteis nas mãos de professores e alunos. A princípio até concordei com a ideia, até ver as capacidades reais das máquinas disponibilizadas. Alguém está a fazer rios de dinheiro com este plano tecnológico - empresas de hardware que se estão a livrar de máquinas semi-obsoletas - máquinas com 1 ghz de ram, literalmente às carradas, e fornecedores de acesso que convertem utilizadores potenciais em utilizadores fieis de um acesso estreito (384 kbps) à tão apregoada banda larga. Tudo isto por um preço total - os 150€ mais a fidelização por três anos dá um custo total de cerca de 700€ - um pouco acima do preço de máquinas de gama média, já com 2Ghz de ram, que estão a aparecer no mercado (talvez em reacção ao plano tecnológico). Mais uma vez, o brilhantismo luso contra-ataca: uma ideia louvável vai descambar debaixo de um amontoado de tecnologia obsoleta e de acessos àquem das espectativas. Não teria sido mais simples reslover a coisa com um sistema de vouchers que permitisse aos utilizadores escolhas mais abrangentes, em vez desta oferta maoista do género tabula rasa, ou reais incentivos fiscais à aquisição de material tecnológico? Não. Isso não iria dar nenhum dinheiro a ganhar àqueles que vivem à custa de sugar os recursos do país.