"A mente é infinita e capaz de entender tudo o que lhe põem à frente; não há limite para a sua compreensão. O limite é a pequenez das coisas e a estreiteza das ideias que lhe são apresentadas. As filosofias dos tempos antigos e as descobertas da investigação moderna nada são para ela. Não a enchem. Depois de as decifrar, a mente segue em frente e pede mais. As mais complexas, todas elas juntas, constituem um simples nada. Essas coisas foram reunidas por meio de um trabalho extremo, de um trabalho tão árduo que só o pensar nele se torna fatigante; porém, tudo considerado, a mente recebe tudo isto com a mesma facilidade com que a mão colhe flores. É como uma frase, que se lê e se esquece."
Richard Jefferies, citado por Henry Miller no ensaio Os Livros da Minha Vida, a pôr o dedo certeiro naquela que é a maior virtude, talvez a única virtude, da humanidade: o etreno inquirir, a incessante busca de compreensão das rodas que movem o mundo. O constante reformular do conhecimento, e a vontade, inata, de querer conhecer sempre mais.
E, também, a colocar o dedo na ferida, na maior fraqueza da humanidade (a maior, de entre tantas). "A pequenez das coisas e a estreiteza das ideias", as cangas dogmáticas, dos dogmas religiosos, filosóficos ou sociais, as ideias feitas e lugares comuns tão revrenciadas por aqueles que temem a libertação trazida pelo conhecimento. Ou que temem a responsabilidade trazida pelo conhecimento. Os arreios dos simples, não dos simples enquanto puros e abertos ao mundo, mas dos simples enquanto adoradores dos ídolo tacanhos da convencionalidade estabelecida, da estabilidade fossilizada, da tautologia inabalável.