quinta-feira, 9 de agosto de 2007
The Big Time
Fritz Leiber, O Tempo, O Espaço e o Cérebro, Livros do Brasil, 1992
Wikipedia | Fritz Leiber
Encontrei-o um pouco por acaso na feira do livro que tem assentado arraiais (e muito bem) ali para os lados da Ermida de S. Sebastião, mesmo por cima da praia do mesmo nome. Por entre os tomos empilhados, e como eu gostaria agora de falar em fólios, infólios ou octavos, encontrava-se um amontoado de suspeitas capas azul cyan. Velhos exemplares da lendária e saudosa colecção argonauta, que poderia não ter as melhores traduções, mas foi durante décadas um farol de continuidade na publicação de FC em portugal.
Vencedor do prémio Hugo de 1958, The Big Time é uma obra que é mais interessante pelos espaços imaginativos que abre do que por si. Numa primeira abordagem, é uma obra claustrofóbica, centrada num curto espaço de tempo (num espaço além do espaço e do tempo, para ser mais exacto). Dizem os críticos que se assemelha mais a uma peça de teatro do que a um romance. A acção é contida, e todas as peripécias se resumem em discussões acesas entre os personagens.
Para lá deste cenário constrito, resta-nos o universo sugerido por Leiber: um universo em guerra consigo próprio, com o tempo como campo de batalha. A história está constantemente a ser alterada pela luta titânica entre duas facções obscuras, que ninguém realmente conhece, denominadas como as aranhas e as cobras. Não se sabe bem quem são os bons e os maus, sabe-se apenas que estamos perante um centro onde os combatentes nas guerras do tempo podem descansar entre operações. No cenário da obra, hussardos cruzam-se com soldados da wermacht, centuriões romanos partilham bebidas com cretenses e oficiais do corpo expedicionário britânico na Flandres. Na mistura até aparecem alieníginas, saturninas criaturas semelhantes a sátiros e uma criatura tentacular lunar, cuja civilização se auto-destruiu e dotou o satélite da terra de inúmeras crateras numa orgia atómica. É essa a essência de The Big Time, a ideia de um tempo para além do tempo.
A obra é inconclusiva. O que poderia ser um belíssimo campo de exploração - as aventuras dos personagens nas épocas temporais - acaba por ser resumido de forma muito desilusória nas intermináveis diatribes contidas na obra. A guerra quente, que abrange o tecido do próprio tempo, é um óbvia metáfora dos tempos da guerra fria, e as histórias são aquelas daqueles que estão presos entre o fogo - mais uma vez, a metáfora dos cidadãos do planeta, presos num conflito entre duas grandes potências capazes de se aniquilarem a si próprias e ao planeta várias vezes, debaixo das chamas do fogo nuclear. Felizmente, a guerra fria, os pára-chuvas nucleares e os cenários ao melhor estilo Dr. Strangelove são história antiga.
Não há muito mais a dizer sobre esta obra. The Big Time é um clássico da FC, o tipo de obra da qual me aproximo com reverência, com a reverência devida aos clássicos e às obras marcantes, mas que francamente me deixou um pouco desiludido. O conceito do livro é fascinante, mas a obra em si deixa algo a desejar.