terça-feira, 17 de julho de 2007

The Bride of Frankenstein



IMDB | The Bride of Frankenstein
Wikipedia | The Bride of Frankenstein

A sequela é um dos parentes pobres do cinema. Concebida para capitalizar sobre o sucesso de um filme que desperte imaginações e aqueça corações, a sequela normalmente deixa muito a desejar, raramente conseguindo corresponder às expectativas levantadas pelo filme original.

Realizado em 1935 por James Whale, The Bride of Frankenstein era a lógica sequela do bem sucedido Frankenstein de 1931. Com o sucesso do filme seminal que lançou a carreira de Boris Karloff e marcou a ferros na cultura pop o ícone do monstro, os estúdios Universal deram a Whale, que também havia realizado o primeiro Frankenstein, carta branca e financiamento a rodos para realizar a sequela do filme de sucesso. O resultado final é algo de inesperado, iconoclasta e inquietante, um verdadeiro clássico do cinema de terror, mais marcante do que o Frankenstein inicial.

Inspirando-se numa passagem do original de Mary Shelley, onde o monstro exige uma companheira, Whale rebusca todos os lugares comuns e mistura todos os elementos icónicos, dando-nos uma visão vastamente mais interessante e irónica sobre o mito do monstro criado pelo homem.

The Bride of Frankenstein abre onde o filme anterior tinha terminado, sobre os escombros em ruínas do moinho de vento queimado pelos aldeões, na esperança de aniquilarem o monstro. Horrivelmente queimado, o monstro de Frankenstein cai por entre as tábuas apodrecidas do soalho para dentro de um poço, que lhe salva a vida. E é a última coisa que vemos do monstro, até cerca de metade do filme.

Após os trágicos acontecimentos, o Dr. Frankenstein resigna-se à vida doméstica nos salões góticos do seu castelo de família, cuidado pela sua esmerada esposa. Mas o idílio doméstico é depressa interrompido por um sinistro personagem, o Dr. Praetorius, homem verdadeiramente mefistofélico que busca o segredo para a criação da vida. Tendo atingido um beco sem saída com as suas experiências com homúnculos de origem vegetal, Praetorius procura Frankenstein, ansioso por descobrir os segredos de Frankenstein. Melífulo, o Dr. Praetorius tenta primeiro insinuar-se junto de Frankenstein, tentando estimular a antiga vaidade científica do cientista, mas perante as insistentes recusas de Frankenstein vê-se forçado a recorrer a métodos menos legítimos para convencer o cientista.

Entretanto, o monstro vagueia, perseguido, pelas florestas, até encontrar abrigo na cabana de um velho cego, que incapaz de ver o monstro alberga-o na sua casa, ensinando-lhe o valor da amizade, ensinando-o a falar, ensinando-lhe a fumar uma boa cahimbada e a beber um bom vinho (sem dúvida, conhecimentos importantes para a vida de qualquer homem), ensinando o monstro que fire nem sempre é bad. Mas este momento de tranquiladade termina de forma trágica, quando dois caçadores reconhecem o monstro e o tentam matar, sem grande sucesso mas assegurando a trágica morte do cego ancião.

Alertado para o ressurgir do monstro, Praetorius consegue, de forma perfeitamente desapiedada, convencer o monstro a servi-lo, obrigando Frankenstein a trabalhar na concepção de uma noiva para o monstro - a noiva de Frankenstein que dá o título e o mote ao filme.

Após a obrigatória cena do roubo de cadáver numa cripta, filmada com especial ironia e genialidade, com Praetorius a gozar uma boa refeição rodeado de caveiras, o filme centra-se nos esforços de Praetorius e Frankenstein que, conjugando os seus conhecimentos, conseguem insuflar o sopro da vida no cadáver da noiva do monstro. No entanto, o fim é trágico - ao acordar, confusa, a noiva não se mostra exactamente muito empolgada com os atributos físicos do noivo, o que leva o monstro de Frankenstein ao desespero, destruíndo o laboratório e com ele o Dr. Praetorius, a noiva e a si próprio, não sem antes retribuir um dúbio favor a Frankenstein - tal como Frankenstein tinha dado vida ao monstro, este permite a fuga de Frankenstein com a esposa, retribuindo-lhe a dádiva.

Há dois fortíssimos elementos que transformam este filme numa obra aliciante, verdadeiramente clássica mas que se revisita, sempre com gosto: a ambiência do filme e a fina ironia que o atravessa. Em termos de cenários e ambientes, Whale deixou-se ir, legando-nos um filme que exagera o aspecto gótico, que encontra nos cemitérios abandonados, criptas húmidas e decadentes e salões encimados por arcos românicos o espaço territorial onde o terror clássico se desenvolve. Por outro lado, a adição/invenção da personagem de Praetorius, cientista desedenhoso e mefistofélico, capaz de tudo para conseguir os seus objectivos e que nunca perde a face nas mais horripilantes situações dota o filme de uma ironia que chega a tocar as raias do extremo. Se Frankenstein é um Fausto que se sacrifica em busca da verdade, Praetorius é um Mefistófeles desdenhoso, manipulador e irónico.

James Whale, que irónicamente gostava de ser reconhecido como um realizador de linha clássica e não um realizador de filmes de terror, manipulou este filme quase até ao absurdo, transformando uma mera sequela numa obra-prima de direito próprio, superior à obra original. Infelizmente, é este o ponto alto da carreira cinematográfica do monstro de Frankenstein - após The Bride of Frankenstein, a criatura entra na decadência camp de filmes como The Son of Frankenstein, Frankenstein meets the WolfMan e House of Frankenstein, que fizeram regredir o ícone do horror clássico para o ridículo do sub-produto que vale pela sua falta de qualidade - so bad that it's good.

The Bride of Frankenstein é um filme indispensável para amantes do cinema de terror e para os fãs incondicionais do ícone. Para a história do cinema fica um novo ícone - a noiva, com o seu inigualável penteado, referência óbvia da Marge Simpson do cartoon do mesmo nome.