terça-feira, 20 de março de 2007

A Sombra do Templário



Núria Masot, A Sombra do Templário, D. Quixote, 2005

Dom Quiixote | A Sombra do Templário

Desta vez não é o segredo obscuro que assegura o tom dominante do livro. O segredo está lá, fiel como esta obra é aos cânones deste género literário tão especialista em segredos ocultos, mas embora o livro gire à volta de um manuscrito que contém um segredo capaz de colocar em questão a origem da cristandade e as pedras basilares da igreja católica este não é o elemento mais importante da obra. Mais do que um livros sobre conspirações templárias, este A Sombra do Templário é um misto de policial com romance de espionagem. Chegado ao fim do livro, o segredo é diligentemente revelado, mas sem quaisquer ilações ou voos de imaginação. Mais do que uma história de segredos, esta é uma história de aventuras onde proto-espiões jogam os seus jogos obscuros na Barcelona medieval.

O tal pergaminho secreto serve como de mote a esta história onde um grupo de espiões templários, espiões ao serviço do papa e espiões ao serviço de um todo-poderoso senhor dos espiões que presta contas ao rei de França (a sombra do título) vão colidindo, com resultados sangrentos, nos becos e vielas de Barcelona. O livro centra-se essencialmente sobre a personagem de Guillem de Montclar, noviço da ordem do Templo e aprendiz de operações secretas que através desta aventura se transforma de tímido aprendiz em enérgico operativo. Pelo meio, observamos as maquinações de frades despeitados, de um médico judeu honrado que também esconde o seu segredo, e assistimos à vingança de um velho grupo de templários sobre a cabeça de alguém que foi um dos seus mas os traiu. A sombra de Bernard Guils, bondoso espião ao serviço da ordem, de lealdade inquestionável e sagacidade aguçada, mestre de Guillem e mesmo após a sua morte o némesis da Sombra, o ex-templário francês ao serviço do rei de França.

Quanto ao segredo do pergaminho, este não deixa de ser curioso: nas últimas páginas do livro o conteúdo dos pergaminhos é-nos revelado como um relato de uma excavação templária no monte do templo em Jerusalém, que teria revelado o túmulo contendo os ossos de Jesus - um segredo capaz de abalar uma igreja construída sob o signo da ressurreição do seu principal profeta.

A Sombra do Templário é uma leitura agradável, misto de Sherlock Holmes, O Nome da Rosa e nalgumas partes particularmente mais agitadas, de James Bond medievo. Incisivo e bem descrito, o livro vai gerando suspense suficiente para nos ir levando de capítulo em capítulo. Não é um clássico, nem uma obra imprescindível; antes, uma leitura agradável capaz de nos deixar a suave recordação de algumas horas prazenteiras.