terça-feira, 6 de março de 2007
O Diário Secreto de Da Vinci
David Zurdo e Ángel Gutierrez, O Diário Secreto de Da Vinci, Sicidea, 2007
Há uma sensação que faz as delícias de todo o bibliófilo, especialmente daqueles mais vorazes entre as criaturas desta espécie conhecida por devorar obras literárias. Trata-se daquela sensação de fascínio e de absoluto interesse que nos agarra à página, que nos impede de parar de ler, que nos obriga a ler um livro de uma só assentada. É coisa rara. Por muito interessantes que sejam os livros que devoramos, por fascinantes que sejam os temas, por intrigantes que sejam as personagens, por mais belas que sejam as palavras ou por mais apaixonantes que sejam as descrições, a verdade é que a maior parte das obras não nos agarra profundamente, obrigando-nos a deixar as horas passar enquanto viramos a próxima página, incapazes de fazer sequer uma pausa.
Este romance foi a mais agradável surpresa desta colecção dedicada à ficção de mistérios. O Diário Secreto de Da Vinci é um livro vibrante e empolgante, de leitura compulsiva. Após os primeiros parágrafos deste livro, estamos perdidos. Só o terminanos, com muita pena, na última página. Muitos dos livros deste género seguem enredos suspeitamente semelhantes aos do Código Da Vinci, obra que lançou este género de ficção para a ribalta, e este livro não é excepção. De facto, as pedras basilares do livro parece ter sido decalcadas da obra de Dan Brown. Não lhe chamaria plágio, antes uma inspirição às voltas com o tema original.
Fiel às temáticas desta literatura, andamos aqui outra vez às voltas com as lendas do graal e com as pretensas linhagens reais francesas descendentes de cristo. Ao contrário do Código Da Vinci, este livro põe tudo em pratos limpos. O mistério aqui não é descobrir a verdadeira essência do graal, mas sim protegê-lo. A história desenrola-se em três tempos distintos, todos interligados pela linhagem do sangue de cristo.
Na europa renascentista, Leonardo Da Vinci une esforços ao Priorado de Sião, encabeçado por Boticelli, para salvar os desecendentes da linhagem divina das garras impiedosas de César Bórgia, sobrinho do mal afamado papa. Numa tentativa desesperada de resgatar os herdeiros do sangue de cristo, Leonardo, qual McGyver do cinquecentto, inventa fatos de mergulho para que soldados de élite possam penetrar no interior de uma fortaleza inexpugnável, projectada pelo próprio Leonardo. Nos anos mais sangrentos da França revolucionária, Robespierre não poupa esforços para aniquilar a descendência divina, que ele via como uma dupla ameaça, ao mesmo tempo política e religiosa, tentando de caminho aniquilar também o Priorado de Sião, protectores ajuramentados da linhagem divina. Em 2004, uma jornalista descobre os segredos que vêm com a herança do seu avô, longamente considerado o louco da família, e acaba por descobrir os modernos descendentes de cristo, não sem antes se ter cruzado com agentes de uma organização secreta da igreja católica apostada em eliminar a descendência de cristo.
Is this groovy enough for you?
O pormenor mais agradável deste livro é a sua despretenciosidade. Não há aqui voos de interpretação, detalhadas descrições dos mistérios das escrituras, o desvendar de simbolismos ocultos, o ressuscitar de mitos há muito esquecidos sob as poeiras das bibliotecas. É um puro conto de aventuras, cheio de peripécias, uma brincadeira à volta da fama e dos mistérios dos códigos secretos e das sociedades ocultas.