terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Leituras

BBC | GM betting on a greener future Será só um golpe publicitário, um sinal dos tempos ou um novo paradigma económico? A GM, o gigante mundial da indústria automóvel (e detentora da Opel) anunciou um investimento em tecnologia de veículos electricos. Anos depois de aniquilar o EV-1, o primeiro carro eléctrico comercialmente disponível, a GM anuncia para breve a chegada ao mercado de um compacto de motorização eléctrica, híbrida ou de hidrogénio. O para breve não tem data anunciada. Entretanto, continuará a vender os tradicionais veículos à americana, com os seus horrendos consumos de combustível.

Guardian | Power, corruption and lies Considerada o mais esplendoroso caso de sucesso económico, a China é um gigante com pés de barro. O crescimento económico é inegável, mas tal crescimento não foi acompanhado por uma mudança nas instituições. O partido comunista continua a mandar, num regime que já ninguém pretende ser comunista ou socialista aberto ao capitalismo, mas sim um regime imperial em que a figura do imperador foi substituída pela do partido. A corrupção alastra - suspeita-se que cerca de 15% do pib chinês acabe nos bolsos dos funcionários corruptos que, prepotentes, dominam de facto o crescimento económico chinês. A política económica chinesa é insustentável, e apenas a vontade férrea do partido aguenta o barco. Se o regime tremer, a bolha económica corre sério risco de rebentar. Entretando, de olhos fechados perante as verdadeiras problemáticas chinesas, o ocidente saúda os sucessos económicos enquanto teme a concorrência da mão de obra barata chinesa e o ressurgir do poderio militar do exército vermelho.

The New York Times | As obesity fight hits cafeteria, many fear a note from school Estranha moda americana: enfrentado a epidemia de obesidade causada pela dieta de fast food com um estilo de vida sedentário, as escolas americanas passaram a juntar uma medição do índice de massa corporal às avaliações dos alunos. Isto no país onde as escolas, em busca de financiamento, cedem as cantinas a franchisings de fast food em troca de parte das receitas.

Não adianta muito ensinar os alunos sobre os perigos da má alimentação quando se lhes fornece má alimentação. É o clássico "faz o que eu digo, não faças o que eu faço", falácia que os alunos topam a léguas. E essa é uma inconsistência também presente nas escolas portuguesas. Por cá, os alunos têm acesso a menus elaborados por nutricionistas, adequados à idade e aos gastos energéticos, nas cantinas das escola. Mas no próprio espaço escolar os bares das escolas vendem chocolates, bolos, batatas fritas e bebidas açucaradas e gaseificadas. Qualquer encarregado de educação que controle os gastos semanais do seu educando sabe no que ele gasta o dinheiro, e sabe também que o almoço no refeitório é uma obrigação. Mas mesmo que a escola fosse consistente, o que não falta nas zonas dos espaços escolares deste país são cafezinhos e lojinhas que fazem dinheiro à custa da táctica do caça-níqueis, vendendo aos miúdos as tradicionais gomas e guludices, para degustarem no intervalo entre as fatias de pizza ou os cachorros quentes. Supostamente os donos e funcionários dessas lojas são adultos responsáveis, que provávelmente exortam os seus filhos a ter uma boa alimentação, mas as leis do mercado falam mais alto.Isto já para não falar em cadeias de fast food instaladas mesmo ao lado de escolas do ensino básico - entre a cantina e um McDonalds, imaginem onde é que um aluno prefere ir comer. Falo aqui da escola como instituição e sistema, não específicamente da minha, mais ou menos equilibrada nesse aspecto. Mas já trabalhei em escolas, neste concelho e noutros, onde muitos alunos não iam almoçar ao refeitório porque no bar das mesmíssimas escolas eram-lhes fornecidos cachorros quentes - e o que é que sabe melhor, para uma criança ou até mesmo para nós, um peixinho cozido ou um cachorro com todos, com a batata, a maionese, o ketchup, o sabor agreste da mostarda a misturar-se com a textura húmida do pão e a suavidade da salsicha... hmm, a hora de jantar aproxima-se. Quando a sociedade defende as boas prácticas alimentares como uma óbvia medida de saúde pública, mas não intervém num mercado exímio em fornecer má alimentação e que comprovadamente elegeu o público infantil como público alvo, tudo em nome do liberalismo económico e da invisível mão do mercado, quaisquer preocupações com "epidemias de obesidade" aproximam-se da hipocrisia generalizada, ou do desespero daqueles que vêem os perigos.