Algumas leituras recentes deram-me a conhecer dois curiosos protótipos de robots, criados pela imaginação de escritores insuspeitos. Estes mecanismos, partes integrantes de ficções, são os bisavós de Bender ou de C3P0. São, os avós de Maria (de Metropolis), dos robots de Karel Capek - escritor checo considerado o inventor do termo Robot na sua peça R.U.R., ou do Robbie de Asimov.
"É, porém, espantoso que muitos de nós façam um juízo pouco mais ou menos idêntico sobre Olimpia. Ela pareceu-nos... irmão, não tomes isto a mal... estranhamente hirta e inanimada. A sua estatura é regular, assim como as feições, é verdade. Poderia passar por bela, mas o seu olhar é por demais destituído de calor vivo, diria quase de faculdade visual. O seu passo é singularmente medido, cada movimento parece determinado pelo desenrolar de uma engrenagem a que deram corda. O seu canto e a sua interpretação musical possuem a precisão adequada, a exactidão monótona e sem alma de uma máquina de cantar; o mesmo sucede com a sua dança. Enfim, esta Olimpia causou-nos uma impressão penosa e nenhum de nós gostaria de relacionar-se com ela; parecia-nos que agia como um ser vivo e que, no entanto, algo nela era singular."
Em 1815, no conto O Homem de Areia, E. T. A. Hoffman traça assim o retrato de Olímpia, filha do professor Spallanzani e por quem Nathanael, seu aluno, se apaixona com a típica intensidade das paixões descritas pelos escritores românticos. Mas Olímpia era apenas filha de Spallanzani porque este tinha sido o seu construtor, o trabalho da sua vida tinha sido a criação deste singular autómato que desconcertava a sociedade e elouqueceu de amores o jovem Nathanael. Uma disputa entre Spallanzani e Coppelius, que havia criado os olhos de Olimpia, revela a triste verdade aos olhos de Nathanael, que cai na mais profunda das loucuras, que o irá levar ao suícidio.
inE. T. A. Hoffman, Contos Nocturnos, Lisboa, Guimarães Editores, 2005
"Musing, therefore, upon the purely Punchinello aspect of the human figure thus beheld, it had indirectly occurred to Bannadonna to devise some metallic agent, which should strike the hour with its mechanic hand, with ever greater precision than the vital one. And, moreover, as the vital watchman on the roof, sallying from his retreat at given periods, walked to the bell with uplifted mace, to smite it. Bannadonna had resolved that his invention would otherwise possess the power of locomotion, and, along with that, the appearance, at least, of intelligence and will.
If the conjectures of those who claimed acquaintance with the intent of Bannadonna be thus far correct, no unenterprising spirit could have been his. But they stopped not here; intimating that though, indeed, his design had, in the first place, been prompted by the sight of the watchman, and confined to the devising of a subtle substitute for him: yet, as is not seldom the case with projectors, by insensible gradations, proceeding from comparatively pigmy aims to Titanic ones, the original scheme had, in its anticipated eventualities, at last, attained to an unheard-of degree of daring. He still bent his efforts upon the locomotive figure for the belfry, but only as a partial type of an ulterior creature, a sort of elephantine Helot, adapted to further, in a degree scarcely to be imagined, the universal conveniences and glories of humanity; supplying nothing less than a supplement to the Six Days' Work; stocking the earth with a new serf, more useful than the ox, swifter than the dolphin, stronger than the lion, more cunning than the ape, for industry an ant, more fiery than serpents, and yet, in patience, another ass. All excellences of God-made creatures, which served man, were here to receive advancement, and then to be combined in one. Talus was to have been the all-accomplished Helot's name. Talus, iron slave to Bannadonna, and through him, to man."
Herman Melville, autor inesquecível graças à magistral obra que é Moby Dick descreve assim Talus, andróide criado pelo genial inventor Bannadonna para tocar os sinos da sua maravilhosa obra de arquitectura renascentista que é a torre sineira que dá o título ao conto The Bell Tower. Bannadonna, cruzamento entre Prometeu e Da Vinci, cai assassinado pelo seu homem artificial. A sua genialidade como inventor não só melhorara o homem mecânico como inadvertidamente o dotara de consciência. Incapazes de compreender Talus, os habitantes da vila italiana deitam-no ao fundo do mar. O nome Talus é uma referência a um autómato de bronze descrito na Ilíada de Homero.
in Peter Haining, ed, The Frankenstein Omnibus, Londres, Bounty Books, 2003