quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
Horror, repulsa e fascínio.
Ao ler ontem o conto O Cavalo e o Elefante de David Soares incluído na antologia A Sombra Sobre Lisboa, percebi finalmente as dimensões de horror no estilo literário do autor. Em primeiro lugar, há o horror do tema, envolvido nas trevas do oculto, do demoníaco e do tenebroso. Mas envolto neste sentido óbvio, há uma violenta textura escatológica que enche a alma de repulsa. David Soares é um escritor que não se detém perante os pormenores mais viscosos e nauseabundos, repulsivos aos nossos sentidos refinados. Finalmente, entrelaçado nestes sentidos, há o horror perante o nosso fascínio com aquilo que nos provoca repulsa, o horror porque ao ler os seus admiráveis contos sentimonos curiosos e fascinados por aquilo que nos provoca revulsão. É um pouco como exprimir o horror sobre os acidentes de automóvel enquanto se abranda para perscrutar as vítimas de um acidente por entre o metal retorcido e ensanguentado do automóvel fumegante.