quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
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Final de período equivale a imenso trabalho e a muitas e longas reuniões. Mas hoje o meu espírito abateu-se. Em conversa com um colega, descobri as novas intenções dos inefáveis secretários de estado da inefável ministra da educação deste nosso inefável governo - acabar com a pluridocência na disciplina de Educação Visual e Tecnológica. Não é uma ideia nova, até porque a pluridocência é um resquício dos tempos em que a antiga disciplina de trabalhos manuais femininos e masculinos se fundiu e foi reorganizada na disciplina que correntemente lecciono. Também admito que não é particularmente defensável, excepto em termos do trabalho realizado - há trabalhos que faço com os alunos que nunca me atreveria a fazer se desse aulas sem par pedagógico. Acabando-se a pluridocência, o que é que acontece aos docentes que ficam sem vaga? Vão andando de escola em escola, concorrendo, até que passados alguns anos sem obter nova vaga passariam ao quadro de supranumerários - ou seja, colocados fora do sistema de ensino. Não é uma perspectiva agradável. Tudo, claro, em nome do economicismo.
Começo a esmorecer. Não costumo queixar-me muito das agruras da classe docente. Trabalho porque gosto, no que gosto. Trabalho com as crianças, para as crianças. Não entendo os privilégios da minha classe como direitos absolutos, antes como recompensas pelo esforço e dedicação, e sou crítico dos abusos daqueles que, na minha classe, se valem dos privilégios fazendo apenas o esforço mínimo. Que não são tantos como isso. Raramente falto, e boa parte do meu tempo livre é passado a afinar conhecimentos ou a descobrir novas ideias para transmitir aos alunos. Não tenho a veleidade de me considerar um bom professor, daqueles que exigem passadeiras vermelhas apenas por terem o estatuto de professor. Sou apenas um profissional humilde, que faz um esforço contínuo pelos seus alunos, sabendo que comete erros, e tentando sempre melhorar o que faz bem. Por isso não me ouvem muito as conversas habituais sobre o estado de decadência geral do sistema de ensino - se está em decadência, cabe-nos a nós fazê-lo levantar, sobre a ignorância dos alunos - mais uma vez, está aí o nosso trabalho e o nosso exemplo de esforço, embora resmungue com os problemas laborais entre a classe e o patrão da cinco de outubro. Mas começo a esmorecer. Para quê esforçar-me, dedicar-me, se sou desprezado por quem me tutela? Se depois de anos de trabalho, em que atingi estabilidade laboral e a oportunidade de contribuir a longo prazo para uma comunidade, começo a detectar sinais de mudança para pior? Qual é a lógica deste governo que apregoa publicamente as suas intenções de melhorar o país através da educação, e aliena o mais possível a classe profissional de que depende para que as medidas que implementa surtam efeito?
(Começo a ter vontade de fazer aos ministros e secretários de estado aquilo que os romanos faziam aos cristãos)