Gutenberg | The Jewel of the Seven Stars
Wikipédia | Bram Stoker
Bram Stoker alcançou a fama e a fuga ao esquecimento literário graças à genia criação do conde vampírico que espalha a sua imortalidade como um vírus, Drácula, que ainda hoje é uma das personagens mais influentes nos géneros de terror e até mesmo na generalidade da cultura pop. Mas Stoker não se limitou ao fenomenal romance que é Drácula. A sua carreira literária, dedicada ao horror, inclui múltiplas obras, hoje já um pouco esquecidas, onde Stoker explora diferentes visões vitorianas do terror.
Desde sempre que o antigo Egipto desperta sonhos exóticos e aguça o interesse por mistérios obscuros. Mesmo nós, que vivemos numa época em que tudo parece descoberto, em que todas as pedras de todos os recantos obscuros do planeta já foram reviradas por hordes de cientistas apostados em descodificar as chaves do mundo, ainda continuamos a sentir um fascínio muito especial pelos saberes, pela arte e pelas ruínas de um império milenar do qual apenas restam os vestígios cobertos pelas areias do deserto. Se é assim agora, mais o era na época vitoriana, em que as luzes do conhecimento começavam a iluminar os recantos não identificados no mapa. Foi a época das viagens épicas ao interior da mais negra áfrica, foi a época em que a ciência e a indústria começaram a alterar radicalmente a nossa civilização. E, no meio de tudo isto, no Egipto convergiam interesses coloniais e científicos, com uma sociedade curiosa no decifrar dos conhecimentos esquecidos ocultos pelos hieroglifos.
O virar de século foi a era do fascínio das coisas egípcias. Foi a era em que a imaginação vibrava, sonhando com os mistérios ocultos sob as tumbas, com os terrores despertados pelas maldições das múmias. Este ideário sugeriu inúmeras obras literárias, que legaram ao mundo a ideia de uma múmia animada, ressuscitada, como personagem de horror. Este foi um iderário repetido exaustivamente pelo cinema, que cristalizou a iconografia da múmia a partir do lendário filme The Mummy, com Boris Karloff a dar toda a dimensão ao personagem e a influenciar visões futuras (filme homenageado por Stephen Sommers nos dois aventurosos filmes em que recupera a mitologia das múmias).
The Jewel of the Seven Stars é o conto de Bram Stoker que inspirou directamente o filme The Mummy - o dos anos 30, não os recentes. Seria difícil estabelecer paralelos exactos, pois as histórias divergem, mas o espírito mantém-se. The Jewel of the Seven Stars conta-nos as desventuras dos Trelawny, pai e filha. Trelawny é um genial egiptólogo, mergulhado nas profundezas dos mistérios egípcios, que busca uma solução para o mistério da morte. Tendo explorado a tumba de Tera, uma maldita rainha egipcia, Trelawny busca a solução para a maldição mortífera que parece rodear a múmia de Tera. Ao contrário das múmias tradicionais, esta parece viva, como que adormecida, a aguardar um despertar. O mistério desta múmia cujas mãos têm sete dedos cujo espírito parece reencarnar no de Margaret, filha de Trelawny, e de uma misteriosa joia de sete pedras preciosas dispostas como uma constelação de estrelas culmina numa malfadada tentativa de reanimação da múmia, que tem dois finais alternativos: no original, apenas o narrador, um advogado enamorado de Margaret que a ajuda nos dias difíceis em que o seu pai adoeçe com uma doença misteriosa, sobrevive, mas um final tão tenebroso não agradou aos leitores da época, forçando Stoker a reescrever o final de uma forma mais cor-de-rosa.
Stoker desenvolveu o enredo de forma brilhante, através de capítulos intrigantes que nos deixam sempre em suspenso para o capítulo seguinte (que é, no fundo, a tão usada e abusada técnica dos cliffhangers). The Jewel of the Seven Stars talvez não tenha ganho o reconhecimento que Drácula teve. Mas merece ser lida, para voltar a sentir aquele arrepio provocado pelos tenebrosos mistérios do antigo egipto.