... amanhã mártires.
A notícia de ontem foi a condenação à morte de Saddam Hussein por alguns dos muitos crimes que cometeu enquanto ditador do Iraque. A legitimidade do novo regime iraquiano, apoiado nos tanques e nos aviões americanos, mostra-se assim, agindo da mesma forma do que o anterior regime. E fica no ar a pergunta: será que nunca mais aprendem? Não que Hussein seja particularmente digno de pena. O seu regime ficou marcado por crimes atrozes. Mas um verdadeiro castigo não está na ponta da corda ou no lado errado do pelotão de fuzilamento. Esses métodos têm a virtude de transformar os castigados em hérois. Morto por um regime ilegítimo, Saddam Hussein depressa verá os seus crimes esquecidos e tornar-se-á a figura de um mártir.
Apesar de todos os seus horrendos crimes, Saddam não merecia a morte. Merecia sim o declínio no cárcere, envelhencendo como uma sombra do que foi, uma patética amostra de humanidade que no auge do seu poder se arrogava do direito de vida ou morte sobre os seus súbditos mas que despojado do poder mostra ser uma triste amostra de homem. Tal como Pinochet, sombra patética do homem que destruiu o Chile, ou Fidel Castro, revolucionário envelhecido e fossilizado.
Isto, claro, sem sequer fazer referência ao facto da pena de morte ser para todos os efeitos um crime contra a humanidade, praticado abertamente por países considerados irrepreensíveis. Mas isso são outras lutas.