segunda-feira, 2 de outubro de 2006

O Pesadelo de Voar IV


Rockwell XFV-12A

XFV-12A
Prototypes | XFV-12A
Global Security | XVF-12A

Quando comecei estes posts sobre estranhas máquinas voadoras inspirei-me nos muitos livros sobre aviação que me enchem as estantes, com especial ênfase no hilariante The World's Worst Aircraft, editado por Jim Wichester para a Grange Books. Como o nome indica, o livro trata precisamente dos piores aviões jamais inventados - quer aqueles que chegaram a ver serviço (alguns comprados directamente da fábrica para a sucata), aqueles cujas falhas eram tão óbvias que ninguém pegou neles, sem esquecer o reduzido mas preocupante clube das aeronaves que de tão mal desenhadas se despenharam no seu voo inaugural. Chamei-lhes o pesadelo de voar, mas isso foi um momento de pouca inspiração influenciado pela ideia de um avião construído segundo os princípios do ornitóptero que apenas conseguiu matar o inventor. Mas estes falhanços são antes um hino à inventividade, e muitas vezes passos necessários e fundamentais ao desenvolvimento da tecnologia. Como podemos saber se uma ideia não funciona, se não a experimentarmos? O verdadeiro pesadelo está em ficarmo-nos pelo que já sabemos, e não avançar em novas direcções. Mesmo que isso implique coisas tão idióticas como o Bonney Gull ou surreais como o Seddon Mayfly. A verdade é que graças a este espírito a aviação em menos de cem anos progrediu da conquista dos ares em frágeis maquinetas até à conquista do espaço. Os princípios básicos que fazem um avião de agora voar são iguais aos de há cem anos - mas a tecnologia é radicalmente diferente. No preciso oposto temos a indústria automóvel, sempre tão propagandeadora das suas inovações - mas a verdade é que tecnológicamente um automóvel de hoje é muito semelhante aos de há cem anos atrás (e isto mesmo sem descontarmos os abs e sistemas do género, que demoraram décadas desde a sua invenção até à introdução nos veículos).

Esta espantosa aeronave representa um dos falsos passos cuja importância é conduzirem a um beco sem saída. De aspecto tremendamente futurista, este XFV-12 representa um clássico caso de aparências que iludem. A máquina pode ter um aspecto futurista, até mesmo hoje, em que vivemos no futuro, mas foi construída a partir de peças de aeronaves clássicas - partes da fuselagem de A4 Skyhawks e de F-4 Phantoms conjugadas com motores sobressalentes dos F-14s. Como exercício de colagem, os criadores do XFV-12 foram muito bem sucedidos - a partir de aeronaves já conhecidas pela sua elegância conseguiram gerar esta verdadeira ave de rapina futurista. Sendo assim, porque é que não a vemos a cruzar os ares?

O XFV-12A era supostamente um melhoramento dos aviões de descolagem vertical, iniciado em 1972 para substituir os Harriers. Os engenheiros da Rockwell optaram por um sistema de propulsão diferente do dos Harriers (que se baseia na vectorização do fluxo do motor) apoiado em mecanismos semelhantes a persianas que se abrem, permitindo a descolagem vertical. Não funcionou. A aeronave descolou verticalmente uma vez, puxada por um guindaste, uma vez que o empuxo não lhe permitia levantar-se do chão.

Devo confessar que tenho uma certa pena de que esta aeronave não voe. Seria sublime ver o céu cruzado por estas aves futuristas - se abstraírmos o facto de serem utilizadas para eliminar vidas humanas.