Correio da Manhã | Escolas públicas com nota mínima Por si só, a ideia dos rankings de escolas não me chateia muito. É uma das modas que afecta a nossa sociedade, esta da classificação por níveis. O problema grave desta história está no simplismo como é abordada, que acaba por transmitir uma imagem perfeitamente errada do panorama educativo. A conclusão mais óbvia, repetida até à exaustão nas manchetes, é a de que as escolas privadas estão nos topos dos rankings, enquanto as piores são inevitavelmente públicas. A mensagem subliminar subjacente é a de que privado é bom, público é mediocre. O que os rankings fazem é agregar os resultados finais dos exames de uma escola numa tabela que agrega os resultados das outras escolas. O que os rankings não fazem é uma observação do meio sócio-cultural da comunidade onde se insere a escola, das suas condicionantes economicas ou do meio familiar. Claro que uma escola privada obtém melhores resultados - mas numa escola privada, os alunos são de meios sócio económicos medios e altos, com rendimentos e meios familiares que lhes permitem uma vida desafogada e um estímulo ao acesso à cultura. Há escolas públicas inseridas em meios desertificados, ou onde reina a exclusão social. Numa escola pública, há de tudo - e os melhores alunos, sei-o por experiência própria, são os de meios familiares estáveis, de vida desafogada e com estímulos no acesso à cultura. são os alunos que lêem nos tempos livres, cujos pais os levam a museus. Nas escolas públicas, obrigadas como são a dar oportunidade a todas as crianças (e ainda bem que assim é) as turmas são heterogéneas, reunindo crianças de meios sócio-económicos diferenciados, com diferentes capacidades de aprendizagem, com diferentes interesses. Uma mesma turma pode ter alunos excelentes, alunos desinteressados, alunos médios, e alunos em processo de queda na exclusão social. Por último, há um tipo de aluno que rareia nas escolas privadas: o aluno com dificuldades de aprendizagem, quer devido à exclusão social quer por ser portador de deficiência. Há escolas privadas que recusam abertamente a entrada desses alunos, mesmo quando a isso são obrigadas (se forem escolas mistas, privadas que têm de assegurar entrada gratuita a alunos de uma determinda àrea de residência). Como exemplo, aqui na Ericeira, o colégio Miramar, que tem de assegurar a escolaridade dos alunos das freguesias do Barril e Lagoa (o estado paga as propinas desses alunos) recusa a matrícula a alunos portadores de deficiências. Assim torna-se fácil subir nos rankings, assim triunfam as desigualdades.
Guardian | The strange evolution of PR Ainda às voltas com aquela teoria da evolução humana que esta semana andou a levantar sobrancelhas: a teoria tinha uns pormenores interessantes - os homens, dentro de mil anos, passariam a ser mais... avantajados, mais... maior grandes na sua virilidade, enquanto as mulheres passariam a ser mais... arredondadas e perfeitinhas, deixando de necessitar de implantes de silicone. Então, a sobrancelha já subiu mais uns milímetros? Por outro lado, a ideia da divisória sócio-genética entre uma super-humanidade perfeita e uma sub-humanidade imperfeita é possivelmente a parte mais asisada da teoria. A brincar, fala-nos da clivagem que já hoje existe entre quem tem, e quem não tem, e a seguir ao tem podem colocar qualquer coisa, desde o acesso à cultura, emprego, conhecimento, dinheiro, àgua... é por isto que a comparação deve ser feita com a ideia Wellsiana de Elois e Morlocks - no futuro longínquo imaginado por Wells, os Eloi eram uma humanidade perfeita, que vivia uma vida de luxo sem necessitar de trabalhar, os descendentes das classes priviligiadas iterados à enésima geração. Os Morlocks eram seres degenerados, quase macacóides, que viviam em subterrâneos e mantinham as máquinas a trabalhar, a iteração à enésima geração das classes trabalhadoras e dos socialmente excluídos. A sobrancelha já está ainda mais levantada? É que a parábola de Wells é sobre os riscos da desigualdade, e esta parábola moderna não esquece esses riscos. Finalmente, uma nota sobre a proveniência do artigo. O artigo, dito científico, foi encomendado a um cientista por uma revista britânica do mesmo estilo da Maxim. Não estou contra o trabalho do cientista, que ganhou uns trocos a extrapolar ideias e a alinhavar conceitos de ficção científica (vem-me à memória um conto publicado há anos na Fantasy and Science Fiction precisamente sobre estes temas). Simplesmente não chamem a um artigo patrocinado por uma revista especializada em fotografias de mulheres semi-desnudas pesquisa científica.
(e esta, meu caro, precisei de a ler no Guardian, que os jornalistas lusos não parecem conseguir ver além de Tolkien)