E assim começou mais um ano lectivo. Hoje foi dia de trabalho, dia de ir conhecer os alunos e dar as primeiras aulas. Dia de nervos - desde que sou aluno que o primeiro dia de aulas me causa aquela ansiedade que me roi as entranhas, uma característica que não perdi quando me tornei professor. A minha primeira aula do ano costuma ter um professor nervoso frente a alunos nervosos, mas a coisa passa passados os primeiros minutos. a engrenagem entra em funcionamento, e o velho hábito de comunicação regressa à tona. As férias têm sempre o condão de nos enferrujar.
As primeiras aulas são sempre um borrão de carinhas ansiosas que olham para nós tentando antever os dias que se seguirão, enquanto nós, igualmente ansiosos, tentamos associar sem grande sucesso faces a nomes e a personalidades. A entrada na escola foi feita ao som das vozes tranquilamente desesperadas das funcionárias, que depois de dois meses de perfeita calma se sentem abaladas pela onda avassaladora de confusão naturalmente gerada pela presença de centenas de crianças num mesmo local. Sente-se que a escola vibra e se anima. Uma escola sem alunos é sempre um local desolado, um local de uma espera ansiosa sem fim.
Muito apropriadamente, para assinalar o fim efectivo das férias e o regresso ao trabalho duro, o dia entardeceu cinzento e chuvoso. O suave som da chuva que cai lá fora termina o dia com um toque nostálgico.
