sábado, 3 de junho de 2006

A união

... faz a força. A história do sindicalismo está recheada de exemplos de como a união dos trabalhadores preveniu abusos, melhorou condições de trabalho e forçou a uma redistribuição mais equitativa da riqueza, permitindo uma vida melhor para as legiões de trabalhadores que são peças fundamentais das máquinas de lucro económico. Hoje, com a moda das teorias neo-liberais que querem deixar tudo ao cuidado das mãos invisíveis do mercado, o sindicalismo parece ser uma relíquia dos tempos ideológicos do século XX, um anacronismo nestes tempos modernos globalizados.

Há quem acuse os sindicatos de serem verdadeiros fósseis vivos, cuja única missão parece ser entravar o progresso económico. No nosso caso profissional, os sindicatos dos professores são constantemente desconsiderados nos media como uma aglomeração de preguiçosos que como não estão para dar aulas se dedicam a defender gordos privilégios insustentáveis, contribuindo para a imoralidade de uma classe de sanguessugas do erário público. É uma imagem que convém ao ministério da educação, e que não é nada ajudada pelas posturas públicas assumidas pelos responsáveis dos sindicatos. Não quero com isto declarar que estou contra o trabalho dos sindicalistas: sem eles, nós, professores, já teríamos sido aniquilados como classe, e sem os restantes sindicalistas, certamente que a pobreza e a exclusão social seriam endémicas enquanto uma classe dominante faria grande alarde dos luxos adquiridos à custa de lucros obscenos (não escrevo isto como um manifesto ideológico - é a simples e triste realidade da natureza humana).

Os nossos sindicalistas precisavam de umas liçõezinhas de relações públicas. Sempre que falam, que são entrevistados por media que são consumidos por uma larga maioria que pouco ou nada sabe das especificidades da profissão, assumem sempre a imagem de defensores de privilégios e direitos adquiridos onerosos para o país (se bem que essa imagem tem sempre um dedinho de edição jornalística, que por cá não é da mais isenta). Para piorar a coisa, por vezes fazem declarações que nem lembram ao diabo - como uma responsável da Fenprof a afirmar que os pais não eram competentes para avaliar os professores. Brilhante declaração, numa altura em que precisamos de conquistar o apoio da opinião pública. Tenho a certeza que esta declaração consguiu alienou a maior parte dos pais deste país. Identificou mal o problema - a questão não é uma de competência, pois o ecossistema de pais e encarregados de educação é vasto e variado, não são todos habitantes de bairros sociais dispostos a deixar os filhos ao abandono. Antes sim é uma questão de isenção - os pais e encarregados de educação têm um interesse directo na prestação do professor, e não é nada desrazoável imaginar situações em que os encarregados de educação pressionem os professores para beneficiarem de forma fraudulenta os seus educandos sob ameaça da avaliação. Alguns já o fazem, sob ameaça de queixas aos serviços do ministério da educação. Agora, declarar os encarregados de educação incompetentes para nos avaliar é assumir uma posição de superioridade que só nos fica mal, principalmente numa altura em que precisamos da opinião pública do nosso lado.

Outro grande erro táctico dos nossos sindicatos tem a ver com a marcação de greves. As greves são uma forma justa e legítima de luta laboral, que faz sentir às populações que realmente precisam do nosso trabalho. Agora, os sindicatos têm tido tendência para marcar greves em vésperas de dias de descanso. As greves de professores acontecem quase sem excepção às sextas-feiras, ou então, caso da próxima greve, em véspera de feriado. Perante uma opinião pública condicionada para nos considerar uma cambada de faltosos que por dá cá aquela palha não põem os pés nas escolas, estas greves não são vistas como greves, mas sim como fins de semana prolongados, com ponte à mistura. É, a meu ver, um erro táctico, que desvirtua os efeitos que a greve poderia ter sobre a opinião pública.

Ainda poderia entrar num campo perigoso: a enorme quantidade de sindicatos existentes. No seu afã sindicalista, muitas vezes os sindicatos esquecem aquela regra básica da política que é o "dividir para reinar". Mas isso são outras questões.

Apesar de tudo, uma coisa é bem certa. Podemos ou não concordar que as mudanças na profissão docente sejam necessárias ou inevitáveis. Podemos ou não concordar com as actuações mais específicas dos sindicatos. Mas estamos a viver um momento em que sob a cobertura de mudanças necessárias, o ministério que nos tutela tenta aniquilar-nos como classe, culpando-nos por décadas de políticas educativas irreais e irresponsáveis. Só unidos conseguiremos defender a nossa profissão.