O último dia de aulas termina sempre com um toque de tristeza. Ficamos sempre com uma salutar pontinha de saudades dos nossos alunos, mesmo que nos tenhamos dado mal com eles. É aquela sensação tão familiar ao professor de ele era tão terrorista que me deixou cabelos brancos, mas coitado, lá vai..., sensação que ataca com especial incidência nas horas pós final de actividades lectivas. Aquelas horas em que a escola, sempre tão caótica e ruidosa, se esvazia de ruídos e crianças. Este ano, a minha dose de nostalgia foi minorada pelo saber que para o ano estarei precisamente na mesma escola, acompanhando assim os meus alunos (especialmente os da minha saudosa direcção de turma).
A minha escola termina o ano bem à maneira saloia, com a famosa Feira Saloia da escola da Venda do Pinheiro. Por óbvias razões de privacidade, não divulgarei aqui fotografias da feira, pois não tenho autorização para divulgar fotos com alunos - uma precaução aparentemente paranóica mas com razões de ser. Posso, sim, divulgar os trabalhos que a minha direcção de turma se extenuou a realizar para a feira. Tudo feito com baixo orçamento - as únicas aquisições foram tintas, vernizes e algum material de serralharia, e apostando na reciclagem - as pinturas foram realizadas sobre cartão, reaproveitando caixas, os objectos e os porta-chaves realizados em pasta de papel, reciclando muitos quilogramas de jornal, e as velas realizadas aproveitando-se copos de yogurte que se encheram de areia colorida. O pior impacto ambiental da actividade foi a areia que fui roubar à praia de Mil Regos.
Como professor e director de turma, passei o ano a maldizer a feira pelo trabalho que me dá. Mas não me liguem - não passam de maldições catárticas, da boca para fora, porque o grande segredo é que me dá imenso gosto meter-me nestas actividades. Sim, é isto que me tira o sono e que me obriga a trabalhar desvairadamente. E sim, sinto que vale a pena. Sinto isso pelo sorriso das crianças.
Quando estiver menos cansado e com um pouco mais de tempo talvez vos ensine as receitas.