sexta-feira, 19 de maio de 2006

Sonoridades perigosas

Conduzir ao som de música clássica pode ser potencialmente perigoso, senão mesmo suicida. Vejam o seguinte exemplo: na estrada, com o motor a roncar, potente, e as curvas a convidarem ao jogo do acelera-desacelera-faz a curva e volta a acelarar, as emoções ficam ao rubro com as sonoridades potentes da Sinfonia Inacabada de Schubert. Especialmente com o magistral segundo andamento. Aí, a vibração interior da música da época romântica leva-nos a querer ultrapassar os carros da frente nas curvas, só para sentir a intensidade do som. Ou então, talvez esteja enganado. Talvez seja só perigoso ouvir música da época romântica, com aqueles altos e baixos de emoção e sonoridade. Pelo menos enquanto se conduz.

Por outro lado, a música contemporânea não é muito melhor. A não linearidade da melhor música contemporânea (ruído, para aqueles que não a conhecem) deixa o nosso cérebro num não espaço, deprivado de qualquer perspectiva, apenas a flutuar num vazio que ressoa dentro da nossa alma. Perder a noção de espaço é algo de profundamente desaconselhável enquanto se conduz.