sexta-feira, 7 de abril de 2006

Blogs para quê?

Já há mais de um ano que dedico boa parte do meu tempo a publicar este blog, mas ainda não me perguntei profundamente o que é que eu pretendo para o blog. À primeira vista, este blog é um aglomerado pouco coerente, que funciona mais como um diário pós-moderno do que outra coisa. Em vez de escrever no caderninho secreto, publico directamente na internet, onde o secretismo é sempre de pouca duração. Mas há medida que vou acumulando críticas a livros e a filmes, está chegado o momento de começar a definir algumas fronteiras para o blog.

Não é que vá deixar de manter um blog incoerente, em registo de diário. Mas tenho de clarificar o porquê de tanto livro e tanto filme. No fim de contas, não tenho qualquer pretensão a crítico literário ou cinematográfico. Creio que é um símbolo da minha luta contra a monotonia cultural. Não monotonia enquanto tédio, mas sim monotonia enquanto falta de diversidade cultural. Sejamos francos. A cultura que nos rodeia, que nos é imposta pelas infindáveis maquinações dos departamentos de marketing, é profundamente uniforme e entediante. Onde se encontra cultura vibrante são nos píncaros rarefeitos da alta cultura ou nos círculos subterrâneos de sub-culturas independentes. Essas expressões culturais necessitam de grandes investimentos de tempo, muitas vezes pouco compatíveis com a vida de trabalho de classe média que a maioria de nós leva. Esse vácuo é aproveitado pelas empresas detentoras de conteúdos, que aproveitam os media para nos saturarem de produtos culturais inferiores cujo único objectivo é gerarem lucros. A cultura torna-se assim um mero bem de consumo. O livro, ou o filme, tornam-se meros objectos que se adquirem no supermercado, junto com o molho de couves, os pensos e a pasta de dentes. A dominância das grandes cadeias de cinemas presentes nos ubíquos centros comerciais transformou a experiência do cinema num tédio excruciante. Não me interpretem mal. Entrar no cinema, sentar na cadeira enquanto as luzes diminuem e as primeiras imagens brilham no ecrã ainda é uma experiência mágica. Os noventa minutos que se seguem de ideias feitas, enredos previsíveis e puro tédio e falta de imaginação que caracterizam o cinema que se vê por aí é que estragam tudo.

Por isso é que me dou ao trabalho de falar aqui de filmes obscuros, e livros que não aparecem nas listas das revistas literárias. Assim luto contra a monotonia da cultura comercial.