quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

The Invisible Man

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IMDB | The Invisible Man (1933)
The Invisible Man
Projecto Gutenberg | H. G. Wells The Invisible Man
Wikipedia | H. G. Wells
H. G. Wells

Escritor da alvorada do século XX, H. G. Wells influenciou profundamente a literatura de ficção científica anglo-saxónica. Ao contrário de Júlio Verne, um eterno optimista no progresso científico, Wells apercebia-se que o progresso científico é uma faca de dois gumes. Todo o brilhantismo das novas ideias e invenções pode ser obscurecido pela forma como utilizamos as novas ideias científicas. A história do século XX, recheada de inovações sem par e de uma violência extrema, deu-lhe razão. No seu romance seminal, A Máquina do Tempo, Wells apresenta uma visão tenebrosa da história humana. Ao projectar o futuro longínquo alcançado pelo viajante no tempo, Wells revela uma descrença na perenidade das conquistas humanas. Ao fim de milhares de anos, a humanidade encontrava-se em visível decadência, dividida entre os ingénuos eloi e os sub-humanos morlocks. Todas as grandes conquistas da ciência humana, dessa luta de séculos e de génios contra as forças da natureza, apenas restavam recordações esquecidas em museus semi-arruinados.

A Máquina do Tempo foi já tema de diversas adaptações cinematográficas, das quais a mais deliciosa foi, possívelmente, a adaptação dos estúdios Disney nos anos sessenta. Mas a o bra de Wells não se esgota n'A Máquina do Tempo. Da sua vasta obra literária, outros livros houve que se prestaram a uma divulgação popular que muitas vezes os desvirtuou. Um bom exemplo trata-se de A Guerra dos Mundos, obra sobejamente conhecida que surpreende pelo seu cinismo: o resultado de uma invasão alienígena na nação mais poderosa da Terra, a Inglaterra do virar do século XX, traduz-se numa aniquilação perante a qual todas as armas e todas as tácticas humanas são impotentes. Apenas as humildes bactérias conseguem vergar as forças alienígenas. O homem, com todas as suas aspirações a dono do mundo e mestre da natureza, capaz de tudo forçar de acordo com a sua vontade, é posto completamente de parte neste duelo cósmico entre planetas. Como curiosidade, confesso-vos que sempre que ouvirem falar de cavorite estão a pegar noutra referência de Wells, desta feita da obra The First Men On The Moon, em que esta substância de propriedades anti-gravitacionais inventada pelo professor Cavour propela uma cápsula numa expedição à lua.

A ciência sempre foi vista como uma forma de transcender os limites humanos, conferindo assim mais poder ao homem para moldar o seu destino. O Homem Invísivel, criação soberba da imaginação de Wells, reflecte profundamente sobre o espírito do homem perante as potencialidades da ciência. A busca de novas capacidades científicas, cimentada numa profunda esperança no futuro radioso da humanidade, pode resvalar em desespero perante as consequências da exploração científica. Reflictam na energia atómica - com o potencial de iluminar a humanidade, e também com o potencial de fazer desaparecer a humanidade sob a sombra de um cogumelo nuclear.

(Por favor, sejam pacientes. Esta minha fixação com a destruição atómica advém de eu ser uma criança dos anos oitenta - nessa altura, o perigo nuclear não estava restrito a vagas ameaças terroristas ou a estados de intenções dúbias que pretendem construir uma ogiva ou duas para colocar num míssil de curto alcance. O perigo nuclear era real, e a destruição do planeta num apocalipse de mísseis intercontinentais carregados de múltiplas ogivas nucleares, capazes de destruir várias vezes todo o planeta, estava apenas ao alcance de uns botões vermelhos. Mas estou a divergir.)

Realizado em 1933 por James Whale, realizador britânico que gozava de uma liberdade pouco usual nos estúdios Universal geridos por Carl Laemmle, The Invisible Man é uma adaptação bastante fiel da obra de H. G. Wells. The Invisible Man é o mais divertido dos filmes de terror produzidos pelos estúdios Universal - o ridículo da história de um cientista que ao tomar uma poção que o torna invisível desenvolve sentimentos de megalomania que o levam a querer dominar o mundo. Claude Rains, actor-revelação no papel do homem invisível, confere um timbre apropriado à visão de James Whale, recheada de um fortíssimo humor negro. É impossível não desatar às gargalhadas perante a visão de uma camponesa aterrorizada que foge aos gritos pela estrada fora, a ser perseguida por um par de calças saltitante que cantarola uma rima infantil.

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Sendo realizado em Hollywood, The Invisible Man não é totalmente fiel à obra de Wells. Os interesses do estúdio ditaram a adição de uma personagem romântica, na crença de que uma história romântica venderia mais (não esqueçamos que o cinema é, no fundo, um produto comercial). Apesar disso, o contrato de Wells com o estúdio dava ao escritor uma palavra a dizer sobre qualquer guião da sua obra, o que significa que não aconteceu a The Invisible Man o mesmo que acontecera a outras adaptações literárias cujas coicidências com a obra cinematográfica final se resumiam ao título. Vejam o Frankenstein, nas suas diversas iterações cinematográficas, e leiam a obra original de Mary Shelley, e perceberão que a visão cinematográfica se encontra muitas vezes profundamente arredade do teor da obra literária que a gerou.

Outro ponto interessante em The Invisible Man é a utilização revolucionária de efeitos especiais avançados para a época. As cenas em que Claude Rains despe as suas ligaduras para revelar um completo vazio onde deveria estar o seu corpo são simplesmente geniais. Obtidas através de montagens, estas cenas obrigaram Rains a representar sob um fato de veludo negro. A película desta filmagem era depois montada com a película das filmagens dos cenários. O resultado final é de uma verosimilhança extrema, especialmente levando em conta os rudimentares meios técnicos da época.

The Invisible Man é um filme de referência, cujo humor negro nos faz reflectir sobre os perigos do progresso a todo o custo. Oitenta anos passados sobre a sua estreia, ainda é um filme pertinente e divertido de ver.