Público | Fátima: milhares de pessoas assistiram à transladação da irmã Lúcia
A grande notícia do dia de hoje é a trasladação do cadáver da irmã lúcia, uma vidente ligada ao milagre de fátima, de um convento em Coimbra para um túmulo no complexo turístico-religioso de Fátima. É inquietante ver a cobertura que os media estão a dar a um assunto de tão parca importância. As televisões enchem-se de imagens típicamente medievais, com devotos de rostos asininos a manifestarem a sua fé inabalável nas patranhas debitadas pela igreja católica. Tanta fanfarra pelo enterro do cadáver de uma alucinada que clamou que viu aparições da virgem maria (virgem que é bom notar que só o começou a ser cerca de três séculos após o surgimento do catolicismo). Se tal tivesse acontecido nos anos sessenta, a causa era típica: lsd, ou outra droga alucinogénica. Tendo acontecido na segunda década do século XX, talvez as alucinações dos três pastorinhos se tenham devido à ingestão de cogumelos, ou a loucura induzida pela fome que grassava no portugal rural de 1915.
Cá por mim, não perdi a esperança que a meio do cortejo fúnebre alguém notasse ruídos estranhos dentro do caixão que encerra o cadáver. Seria milagre? Imaginem a estupefacção da multidão, enquanto a madeira do caixão se quebra para revelar a mão esqueléctica do cadáver da irmã lúcia a desfazer o ataúde em pedaços. A multidão paralisa-se, indecisa entre o horror e a alegria. Os mais devotos começam a gritar pelo milagre, e a multidão ululante é atacada pelo cadáver. O zombie enlouquecido, esqueleto com pedaços de carne putrefacta, tenta devorar a multidão que, devota, se ajoelha e se deixa morder pelo santo zombie, assegurando assim uma espécie de vida após a morte. Alguém reage, finalmente, roubando uma espingarda a um qualquer agente estupefacto da polícia. A cena assume uma clareza cristalina, o tempo parece parar enquanto o cano da arma engatilhada é encostado à boca putrefacta da santa zombie. O nosso herói berra "reza aqui!" e preme o gatilho, esparramando pedaços de ossos e miolos apodrecidos pela multidão devota. O rosto de uma devota camponesa atinge o êxtase devocional enquanto se vê coberta dos santos pedaços do corpo da zombie. "Fui abençoada", grita, histérica, enquanto o sangue coagulado e os pedaços do bolbo raquidiano escorrem pelo seu rosto que expressa uma transcendência mística. Ao fim do dia, os meios de comunicação estupefactos trazem relatos do horror que se vive no interior de um satuário de fátima povoado por zombies assassinos. A força aérea vem a público com planos para bombardear o recinto com napalm, apesar da oposição do patriarcado que vê nos zombies que infestam o santuário de fátima uma manifestação da benevolência divina. Alguém sugere que se atomize fátima, fazendo desaparecer os zombies e o santuário num cirúrgico cogumelo nuclear.
Se a dúvida cartesiana estiver correcta, possívelmente arderei no inferno por isto. Que se dane; se tal acontecer, estarei em boa companhia - é para o inferno que vão as pessoas interessantes. Se a dúvida cartesia e os evangelhos gnósticos estiverem ambos correctos, melhor - sendo deus um demiurgo, quem está contra deus está pelo lado do bem.
O século XXI deveria ser o século do triunfo da inteligência e da ciência humana sobre o obscurantismo das trevas religiosas. Pelo que observamos no médio oriente e hoje em portugal, ainda estamos muito longe de dissipar as trevas do obscurantismo perpetuado por legiões de sacerdotes de todas as religiões.