A rapariga estava a mostrar à mãe e ao namorado as maravilhas do seu novo telemóvel. Telefonou a outro elementofeminino da familia, e colocou o telefone em alta voz. "Olha, mãe, com este não é preciso encostar ao ouvido para falar." Seguiram-se longos momentos de conversa perfeitamente banal, daquelas conversas que temos ao telefone quando não temos nada para dizer. Aquelas conversas cheias de interjeições e frases feitas, olá tudo bem beijinhos corre tudo bem e então como é que vai isso.
O namorado olhava, incomodado, enquanto a mãe da namorada falava para o telemóvel pousado sobre a mesa. "Olha, e ele esta aí também? Então diz-lhe..." A voz feminina respondia-lhe, trazida do lado de lá do éter pelo espectro electromagnético. Aos meus ouvidos chegavam palavras entrecortadas, no limiar da compreensão sonora.
Sentado na mesa de café ao lado, tentando conversar com amigos que se entreolhavam, estupefactos com a evasão de privacidade emitida em alta voz no espaço público do café, murmurei entre dentes.
- Ponham o som mais alto. Eu queria ouvir melhor a conversa...