terça-feira, 7 de fevereiro de 2006

The Creature From The Black Lagoon

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IMDB | Creature From The Black Lagoon (1954)
Wikipedia | Creature From The Black Lagoon
Creature From The Black Lagoon

Durante a primeira metade do século XX, os estúdios Universal adquiriram uma boa reputação devido às suas produções conscienciosas de clássicos do terror. Sob a direcção de Carl Laemmle, foram produzidos clássicos do cinema de terror como Drácula, com Bela Lugosi numa inimitável intepretação, o sublime Frankenstein, onde Boris Karloff fixou para a eternidade a iconografia do monstro, The Mummy, The Wolfman e o bizarro The Invisible Man, onde o terror se mistura com doses bem administradas de humor negro. As sequelas destes filmes tornaram-se clássicos do cinema camp - pensem em The Bride of Frankenstein ou as múltiplas iterações de Drácula.

A fama destes filmes advinha de sólidos valores de produção. Não se tratavam de filmes de terror de série b, repletos de efeitos especiais disfuncionais, diálogos a roçar o incompreensível e monstros mais ridículos do que assustadores. Eram filmes alicerçados em bons argumentos, muitas vezes baseados em peças de teatro da época, que contavam com uma fotografia cuidada, bons efeitos especiais e interpretações sólidas dos actores que desempenharam papeis que, pelo seu trabalho, se tornaram icónicos. Qualquer intrepretação de Drácula ou Frankenstein tem de levar em conta o trabalho de Bela Lugosi e Boris Karloff. Se não for assim, não nos parece real. Durante os anos da grande depressão, estes filmes foram o bem sucedido ganha-pão dos estúdios Universal, e tornaram-se um marco do cinema do século XX no género de terror.

A evolução das mentalidades traz-nos ideias diferentes. Se o terror filmado antes da II Guerra Mundial se alicerçava em monstros medievalistas e horrores ocultos, o terror do pós-guerra está fortemente influenciado pela ciência. A criação das armas atómicas engendrou nas mentes contemporâneas uma noção de terror moderno, alicerçada em tudo o que pode correr mal no domínio de uma ciência que na sua busca de novas fronteiras desperta novos horrores saídos da caixa de pandora do conhecimento. É algo que Frankenstein já prefigurava, mas os grandes clássicos do cinema B dos anos cinquenta exploraram profundamente esse ideário, centrado em cientistas loucos, alienígenas, monstros que sofreram mutações horripilantes graças ao poder da radiação atómica e descobertas científicas inquietantes.

É neste cenário que se insere The Creature From The Black Lagoon, o canto de cisne dos filmes de terror dos estúdios Universal. Orginalmente filmado em 3D, utilizando a técnica da fotografia tridimensional visível através de óculos polarizadores, The Creature From The Black Lagoon estabeleceu-se como um clássico deste género cinematográfico.

The Creature From The Black Lagoon está recheado de todas as ideias que esperamos encontrar num filme deste género: um mundo perdido no meio do amazonas, uma expedição científica, estranhos fósseis misteriosos que inquietam os cientistas, tensões internas entre os cientistas, um monstro e uma bela rapariga que o monstro tenta capturar, apenas para ser derrotado numa luta contra o herói do filme. Os ingredientes são estes, e resta apenas aos actores, argumentistas, realizadores e criadores de efeitos especiais gerar aquele sentimento de incredulidade que nos leva a ver e rever estes filmes.

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The Creature From The Black Lagoon inicia-se com a descoberta de um estranho fóssil de uma garra em pleno amazonas. Para se tentar descobrir a que estranha criatura teria pertencido a garra fossilizada, um grupo de cientistas financiado por um empresário monta uma expedição ao amazonas. No decurso das suas explorações, os cientistas chegam a uma lagoa onde o tempo parece ter parado. Aí descobrem que o fóssil que tinham encontrado tem uma contraparte ainda viva, uma criatura humanóide anfíbia que parece um elo perdido entre a humanidade e os peixes. Ao tentarem capturar a criatura, são aniquilados um a um, sobrevivendo apenas aqueles que colocam os interesses da ciência acima dos interesses comerciais. Para apimentar o filme, a criatura desenvolve uma fixação pela cientista do grupo, cujo hábito de nadar em lagoas desconhecidas em fatos de banho sensuais lhe granjeia as atenções indesejadas do humanóide verde-lama que tresanda a peixe.

Um aspecto que me surpreendeu em The Creature From The Black Lagoon foi o seu lado ecológico, algo de perfeitamente inesperado num filme de monstros dos anos cinquenta. A chegada dos cientistas à lagoa corrompe irrmediávelmente a natureza intocada do lago. As actividades dos homens de ciência sujam o lago, envenenam os peixes e ameaçam destruir o ecossistema do lago. Os próprios cientistas estão conscientes disto, e ao longo do filme tentam diminuir o seu impacto sobre o lago. A reacção da criatura, aparentemente devido à sua fixação pela beldade do filme, pode muito bem ser interpretada como uma reacção das forças selvagens da natureza à intromissão destruidora do homem.

Como nota final, gostaria que memorizassem bem o fabuloso aspecto visual da criatura, desenhada por Millicent Patrcik, artista dos estúdios. É um fato de borracha, é certo, mas é um fabulos fato de borracha, que no ecrã de um glorioso preto e branco se assemelha perfeitamente às escamas de uma creatura assustadora que está para lá do tempo.