domingo, 5 de fevereiro de 2006

Cartoons

Sei que escrever estas linhas poderá tresandar a xenofobia e ao sentimento de superioridade do mundo ocidental sobre todas as outras culturas que coexistem neste já um pouco acanhado planeta. Vai soar mal, mas tem de ser dito. A vergonhosa reacção que alastrou como um incêndio florestal em mata seca através de todo o mundo islâmico ao affair dos cartoons dinamarqueses deixa-nos poucas dúvidas de que estamos perante uma verdadeira guerra civilizacional. Os proponentes das teorias do choque de civilizações devem estar a abrir garrafas de champagne e a degustar canapés de caviar (não do iraniano, claro). Aqueles que acreditam num mundo de progresso social, tecnológico e económico inclinam a cabeça, entristecidos perante este ressurgimento dos fundamentalismos religiosos e este ataque às liberdades de expressão (e outras liberdades) de que tanto nos orgulhamos, e que são a pedra chave do nosso modo de vida. A publicação de cartoons às voltas com maomé, algo de perfeitamente legítimo, indignou de tal forma os obscurantistas religiosos que o mal estar passou de manifestações de palavras a actos de vadalismo violento. Isto acontece precisamente na época da luta contra o terrorismo islâmico e, curiosamente, nos dias em que se discute a possibilidade do Irão adquirir armas nucleares. Haverá aqui algum dedinho iraniano para distrair o mundo, gerando um sentimento de pena em relação ao mundo islâmico, conferindo-lhes assim o direito de desenvolver armas atómicas?

Outro pormenor chocante é que não se ouve, pelo nosso lado, a vigorosa defesa das nossas liberdades que deveria estar a ser expressa. Perante as multidões enfurecidas pelo obscurantismo, a atitude europeia tem sido a de aplacar e acalmar, o que em si é louvável, mas as palavras doces não traduzem a defesa dos valores liberais europeus.

Só para referência, é bom observar que o obscurantismo religioso não é exclusivo do islamismo. É a característica básica dessa doença mental que é a religião. É um ponto em comum em todas as religiões.