A minha rotina pedagógico-bloguista foi hoje interrompida por uma daquelas actividade apensas à profissão de professor. Ossos do ofício, digamos. Hoje, logo pela manhã, após o raiar do sol, fiz-me à estrada com os alunos. O objectivo era realizar uma visita de estudo.
A visita de estudo é possívelmente uma das maiores falácias da profissão docente. Os alunos, inocentes e ainda não contaminados pelos latinismos inerentes aos profissionais, chamam às visitas de estudo os passeios da escola. Estão claramente correctos. Dizemos nós, professores, que uma visita de estudo é uma aula diferente - ao ar livre, ou num museu, onde os alunos tomam contacto directo com aquilo que lhes tentamos ensinar dentro da sala de aula. Essa, é a teoria. Na prática, a visita de estudo resume-se a apascentar bandos de miúdos de um lado ao outro, com algumas explicações à mistura, que aos alunos entram por um ouvido e saem pelo outro. Os miúdos divertem-se; que pode haver de melhor do que andar a correr e a brincar com os amigos longe da escola, ao som dos berros ou dos gritos desesperados do professor? Os professores entendem tudo isto, e resignam-se. A visita de estudo faz parte da tradição escolar. É uma ideia demasiado arreigada para que possa ser questionada.
E. na verdade, é útil. No fim de contas, escola que não abre novos horizontes aos alunos não é escola nenhuma.
A de hoje foi ao jardim zoológico, um dos locais por excelência para visitas de estudo. São quase sempre os mesmos. Ou é ao zoológico, ou ao pavilhão ciência viva, ou ao oceanário, ou ao palácio de mafra. Estas instituições vivem essencialmente à conta de inúmeras visitas de estudo, de inúmeras filas mais ou menos ordenadas de centenas de alunos que por dia passam por aqueles espaços com os professores resignados a um dia em que terão de ser pastores e baby-sitters.
A vantagem do Jardim Zoológico é que é uma visita ao ar livre. A desvantagem é o frio que se faz sentir. Quanto ao cheiro a bosta, ao fim de uma hora o nariz habitua-se. Depois, é só passar o dia com as habituais romarias à casa de banho, a pausa para os gelados e a nova tradição destes tempos mais afluentes: a ida à loja, para comprar... qualquer coisa, uma tralha qualquer rápidamente esquecida que sirva de recordação de um dia divertido.
Eu não sou desmancha-prazeres. Apesar de saber o que realmente é uma visita de estudo, nunca me importo de acompanhar os meus alunos. A minha recompensa é a alegria deles.