segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

O Homem do Colorado

The Colorado Kid

Aproximei-me deste livro com alguma cautela. É o último a sair do processador de texto de Stephen King, o autor considerado o mestre do suspense e do terror, e já tinha lido, algures na ronda dos blogs, que o livro não era aí uma coisa por demais. Mas, pensei, é bom nunca acreditar totalmente no que se lê por aí... e ainda bem.

É natural que O Homem do Colorado tenha sido desconsiderado. Não é um romance de terror, não é um romance policial, embora se assuma como tal. É apenas uma história cujo suspense está na forma como está escrita. O enredo é banal - trata-se de um mistério criminal, às voltas com um cadáver misterioso que aparece abandonado numa praia de uma ilha isolada do maine. O que torna interessante é que a história é contada anos após o acontecimento, pelos dois idosos jornalistas de um jornalzinho local a uma jornalista estagiária que se distingue pela sua curiosidade aguçada.

Se esquecermos a banalidade do enredo de O Homem do Colorado, este livro mostra Stephen King no seu melhor - às voltas com mistérios, com o nosso desejo e fascínio pelo obscuro e tenebroso, mesmo que nos espere a banalidade do assassínio. O outro ponto que não me deixou pousar o livro foi a descrição apaixonante que King faz de um meio que conhece bem - o das vilóriazinhas espalhadas por entre as ilhotas da costa do maine, terras isoladas habitadas por pessoas resistentes e aparentemente soturnas que escondem dentro de si uma vitalidade e uma inteligência assinalável. na verdade, parece que ultimamente Stephen King tem-se especializado em adaptar a sua visão mainstream do terror e suspense a interessantes retratos de uma ruralidade americana, ligada por laços inextricáveis ao mar, e que vai desaparecendo com a modernização tecnológica.

Daqui a décadas, quando a fama comercial de Stephen King for já uma distante memória eclipsada por novos escritores de thrillers de leitura fácil, é muito possível que sejam estes retratos inesperados de uma america folclórica que garantirão a Stephen King um lugar no panteão daqueles escritores que apesar de menores não serão esquecidos.