O fim está próximo! Arrependam-se dos vossos crimes inconfessáveis, pecados públicos e vícios privados, pois o final aproxima-se e traz consigo o implacável julgamento que porá a nu as trevas da vossa alma! Arrependei-vos, arrependei-vos, minhas ovelhas tresmalhadas!
Ecumenismos à parte, a verdade é que o fim se aproxima. Não o fim do mundo, claro, mas o fim desta época de muito trabalho de utilidade questionável conhecida como avaliações de final de período. Vêem como hoje estou simpático? Não disse que era tudo totalmente inútil. Esta é uma época perfeita para observarem professores angustiadamente debruçados sobre papeis e computadores enquanto o seu cérebro procura frases bonitas que descrevam numa perfeição politicamente correcta a burrice (genética ou não) ou a preguiça (inata ou adquirida) dos alunos. Os professores gostam é dos bons alunos. Não dão trabalho a ensinar, porque sózinhos vão lá. Não dão trabalho a aturar, aliás raramente abrem a boca a não ser para finalmente dizerem aquela frase ou palavra que o professor solicitou mas que a maioria da turma fica a olhar embasbacada, incapaz de mexer os maxilares sequer para fechar a boca. E não dão trabalho nenhum nas avaliações. Para esses não são precisas estratégias, apreciações, observações, técnicas de recompensa ou apoios psicológicos. Quase me atreveria a perguntar o que é que os bons alunos andam a fazer na escola, pois a recompensa que têm por ser tão atinados, cumpridores e responsáveis é serem esquecidos.
De qualquer maneira, o fim aproxima-se. Não prevejo ter de dinamizar uma reunião de concelho de turma agitada. A turma até tem boas avaliações, e todas as decisões que costumam dividir e agitar qualquer concelho de turma já foram préviamente tomadas por mim. É uma atitude cínica, eu sei, mas observem qualquer conclave de docentes, com cada qual a considerar-se o detentor da verdade suprema mas incapaz de decidir entre um simples sim ou não, e reparem como todos os problemas se desvanecem, a chuva pára de cair e surge um arco-iris quando o coordenador da reunião apresenta uma decisão já tomada como uma possível sugestão que humildemente coloca à consideração dos colegas.
Começo até a pensar mal dos colegas que não trazem já tudo decidido para as reuniões e nos forçam a opinar sobre os assuntos. É muito deselegante.
(Este meu estilo autocrático deve advir de algum resquício que tenha de uma costela dos viscondes da merceana. Um dia conto-vos esta pérola da minha história familiar.)
Como director de turma, ando sempre a tentar equilibrar os interesses dos alunos (que devem ter a primazia, com os interesses dos professores e os meus interesses (sobreviver incólume ao ano lectivo). É por isso que ago assim. É contraproducente passar demasiado tempo a discutir as bonitas frases com que decoramos os documentos que temos de produzir. O que realmente interessa é o nosso trabalho na sala de aula. Se esse for descuidado, não há competências essecenciais ou estratégias de superação de dificuldades que valham.