Exausto é a palavra que me define. Só estou bom é para vegetar ao som de Les Baxter com bizarros sons jazz/tiki/lounge. Música foi a de esta manhã, com a maior festa de natal que a escola da Venda do Pinheiro jamais viu. O meu colega Paulo Pontes conseguiu pôr todos os alunos de segundo ciclo a pular, literalmente, de alegria. O homem está de parabéns: não só conseguiu pôr em pé um verdadeiro espectáculo em poucas semanas, como ele próprio foi o espectáculo - tocava, orientava os alunos, apresentava as actuações, dinamizava todo o público. Eu contribuí com uns humildes adereços e cenários para um teatrinho, que amanhã será apresentado na escola da Ericeira, num inédito intercâmbio entre escolas. Ou melhor, num intercâmbio entre professores de música dinâmicos e interessados das duas escolas. Da Ericeira vieram o sistema de som e uma banda de alunos do nono ano que em três meses de trabalho quase pós-lectivo com uma professora arranhavam um som de fazer inveja a muitos profissionais. Foram esses convidados especiais que puseram, literalmente, e quando digo literalmente digo mesmo literalmente, a escola aos pulos.
E anda o ministério a arranjar mais burocracia para nos atrapalhar em vez de nos libertar tempo para agir - se bem que concordo que se isso acontecesse, certamente que a maioria dos professores aproveitaria para menos fazer. Essa é uma triste verdade.
Em última análise, participo nestas actividades por uma boa razão: a escola não se limita à sala de aula, aos conteúdos, aos programas, aos apontamentos, ao estudo. Daqui a alguns anos, do que os alunos se recordarão não será dos ralhetes que ouviram na sala de aula ou das belas frases da página tal e tal do manual. Serão estas as actividades que lhes ficarão na memória, pois assim a escola cumpre a sua tarefa de dinamizadora cultural da comunidade. É também por isso que cada vez oriento a minha práctica lectiva para o prático e para o experimental em detrimento do formalismo. Cada vez mais penso que me interessa um aluno criativo, autónomo e capaz de se expressar sem medo de experimentar do que um aluno que me saiba fazer desenhos e pinturas formalmente perfeitas mas vazias de imaginação. Ando a dar mais valor a um boneco disforme modelado pelos alunos a partir da sua própria imaginação do que a toneladas de desenhos e pinturas onde se aplicam todas as regrazinhas que os professores ensinam. Essa foi a grande lição que aprendi com a minha par pedagógica do ano passado, a Paula Oliveira. Nas disciplinas práticas, o atelier é mais importante do que a exposição de conteúdos. Na carga horária dos alunos, eles já têm horas que cheguem para teoria; não transformemos os poucos momentos de criatividade em mais umas entediantes aulas teóricas.