domingo, 27 de novembro de 2005

Strangehaven: Arcadia



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The Friday Review | Strangehaven: Arcadia

Recentemente editado pela Devir, Strangehaven é um comic diferente. Gary Spencer Millidge, o autor, não é um profissional dos comics. Só produz dois volumes de Strangehaven por ano, que edita independentemente (é um comic de edição de autor). O comic não supreende pela qualidade artística - esse é um aspecto que deixa algo a desejar e que aponta para o amadorismo do autor. Apesar de tudo, este é um comic que já ganhou alguns prémios de Banda Desenhada. Porquê?

Strangehaven é uma aldeiazinha do devonshire britânico. Neste primeiro volume, somos introduzidos à aldeia e aos seus aparentemente normais habitantes pela chegada de um estranho, que se perde nas estradinhas rurais inglesas e que se estampa contra uma àrvore após ter uma estranha visão. Ao chegar a Strangehaven, cedo descobre que as pessoas que o rodeiam são um pouco... estranhas. Há casais ocultamente infieis, um pub gerido por um mestiço que quase foi xamã de uma tribo xingu da amazónia, um hippie de óculos escuros permanentemente sobre os olhos que se diz um alienígena vindo do planete nimoi, um misterioso professor primário que é também o líder de uma misteriosa seita oculta que se reúne nas noites tranquilas da aldeia, uma velha senhora, dona da pensão local, que passa as noites a vaguear pelo quintal em busca algo inominável, enfim, toda uma galeria de personagens aparentemente normais que se vão imiscuindo e integrando na vida do nosso estranho à aldeia, que é um professor à deriva na vida após um desgosto amoroso.

Este professor acaba por se decidir a ficar na aldeia, não sem anter ter perdido um dia a tentar sair da localidade sem nenhum sucesso - todas as estradas campestres que saem da aldeia parecem conduzir de volta à aldeia, uma estranha coincidência que o professor atribui à sua inépcia ao volante. Mas a localidade é aprazível; é-lhe oferecido um emprego na diminuta escola da aldeia; e uma das raparigas da aldeia torna-lhe perfeitamente claro que está interessada nele. Então, porque não ficar?

Aguardo ansiosamente os próximos volumes de Strangehaven. Este primeiro volume atraiu-me pela sua sugestão de um mundo fantástico que se encontra ao virar da esquina, um mundo estranhamente sinistro e fascinante pela sua semelhança com a nossa realidade. O que se seguirá certamente que promete - no fim de contas, este bizarro comic independente chegou aos píncaros do mundo BD com a nomeação para prémios ignatz, eisner, eagle e alguns outros que seriam, talvez, um pouco maçudos de enumerar.

O meu veredicto? Vale bem a pena experimentar Strangehaven. Como diza Pessoa, primeiro, estranha-se, depois, entranha-se.