Hoje a escola anda atarantada. Os professores encontram-se em greve, o que se traduz numa escola cheia de alunos a correr pelos recreios fora e salas de aulas vazias.
Nem todos os professores fizeram greve, e eu conto-me entre esses. Tenho várias razões: o dinheiro que perco durante a greve faz-me falta neste momento, e não quero dar ao ministro das finanças o prazer de pensar “greve dos professores? Porreiro, com o que iremos poupar em ordenados neste dia já podemos renovar a frota de Mercedes e bmws para os secretários dos acessores dos secretários”.
Por outro lado, este governo tem maioria absoluta. A oposição é ineficaz, e creio que só uma revolução poderia demover este governo das medidas que está a tomar. O governo é firme, e tem a necessária maioria em assembleia para o poder ser. Qualquer greve ou manifestação de pouco mais serve do que notícia para abrir telejornais e alimento para comentários absurdos dos sapientíssimos comentadores televisivos e dos colunistas dos jornais.
Também não consigo discordar completamente das medidas governamentais. Há coisas óbvias: passamos a vida a clamar por aulas de substituição e actividades de complemento curricular, mas quando elas surgem, revoltamo-nos. É o velho síndrome dos licenciados portugueses: a recusa e incapacidade em ser polivalente. Ou então é o clássico ”tudo bem, mas eu é que não”. Estar contra a alteração à idade da reforma é esquecer que vivemos numa época sem precedentes. Aos sessenta e cinco anos, não seremos as tristes desculpas de seres humanos derreados e acabados como éramos ao longo de milénios de história humana. Agora, o problema que se põe é o oposto: uma cada vez maior quantidade de pessoas da terceira idade cheias de competência e experiência no mercado de trabalho. É a tendência do futuro. Para além disso, gostaria que houvesse dinheiro para me pagar a reforma, o que será complicado olhando para as alterações demográficas com o progressivo envelhecimento da população.
Claro que não dou toda a razão ao ministério. Os responsáveis do ministérios comportam-se como elefantes numa vidraceira. Cada vez que abrem a boca, ofendem-nos. Aposto que muitos dos professores que estão em greve a fizeram precisamente por se sentirem ofendidos (como eu me sinto) por um ministério de desbocados hipócritas. Porque a grande razão de todas estas mudanças não é a qualidade educativa e a promoção do sucesso escolar (quanto a esta, saiu agora uma legislação que impõe tanta burocracia aos professores dos alunos com insucesso que aposto que as notas vão começar a subir por magia). É a poupança financeira, que me faz tremer de medo. Se a ministra afirma que a alteração à progressão nas carreiras tem de levar em conta o mérito e o esforço, afirmação com a qual todos concordamos, as verdadeiras palavras dela são “temos de cortar nos salários dos professores”. Porque, como bem sabemos, os bmws dos acessores dos secretários dos acessores do ministério da educação estão a começar a cair de podres ao fim de seis meses de utilização.