sábado, 5 de novembro de 2005

Embrace the New

Quando, perante alunos, vejo professores conscienciosos a ensinarem os petizes que "a internet é uma importante ferramenta de pesquisa", tremo de horror. Perante estas afirmações, transformo-me em advogado do diabo e defendo precisamente o oposto: que a internet é inútil para pesquisas. Aqui há dias disse esta heresia frente a uma turma, ganhando com isso uns olhares enfurecidos por parte da professora com quem trabalhava (que, se ler estas linhas, não me leve a mal).

É um erro encarar a internet com mais um media de consumo. A internet não é como a televisão. Com a televisão, sentamo-nos no sofá, ligamos o televisor, o ecrã ilumina-se e, voilá, eis-nos transformados em puros zombies de boca entreaberta e olhos esgazeados iluminados pela fria luz bruxeleante do canhão de electrões (ou do brilho dos cristais líquidos, ou do brilho do plasma). Com a internet, podemos tão fácilmente ser produtores como consumidores de informação. E creio ser esse o espírito que devemos incutir aos nossos alunos. Claro que assusta - é mais fácil ensinar a pesquisar do que ensinar a utilizar a internet. Também assusta porque quando colocamos ferramentas de produção nas mãos dos alunos, tudo pode acontecer - as fotografias que os alunos tiram com as suas câmeras incorporadas nos telemóveis podem ser perfeitamente inócuas, ou podem invadir a privacidade de uma sala de aula ou de um balneário. Os textos produzidos por alunos no contexto de um blog podem ser perfeitamente desadequados, especialmente num documento a ser lido por toda a comunidade escolar. Correm-se riscos, perante os quais os professores se assustam. Os professores que já pensaram nisto, claro, porque os outros ainda acham extremamente moderno e actual trazer os meninos à biblioteca e ensiná-los a trabalhar com o google. Os meninos, com telemóveis 3G dentro do bolso, capazes de fotografar, editar texto e colocar online num fotoblog ou moblog, não desenvolvem as capacidades cognitivas necessárias para utilizaram todo o potencial dos seus gadgets. Mas vá lá, aprendem a clicar no botão pesquisar.

Creio que não há que ter medo. O não aproveitar as potencialidades dos usos criativos das Tecnologias de Informação é um mal maior do que as possíveis dores de cabeça provocadas por um uso menos correcto pelos alunos. Quanto ao uso correcto, é o nosso trabalho e dever como educadores mostrar-lhes as potencialidades, ensinar as ferramentas, mas também mostrar os limites - por exemplo, ao colocar a capacidade de criar um blog nas mãos dos alunos, deixar bem claro que o que lá poderá ser colocado está restringido em termos do que se pode dizer, respeitando a liberdade de expressão, mas não permitindo conteúdos desadequados.

É fácil ensinar a pesquisar, mas ensinar a tirar partido da internet é mais complexo (especialmente para uma classe docente em que grande parte ainda não sabe qual é a extremidade do cabo que se liga à tomada eléctrica). Falo por experiência própria, pois tento, no decorrer das minhas aulas, introduzir os alunos ao tratamento digital de imagens, à produção de imagens com máquinas fotográficas digitais, e à produção de conteúdos através de animações. Sei bem quais são as dificuldades, desde os esterótipos na mente dos alunos (a partir do sexto ano, a criatividade esfuma-se) às dificuldades criadas por ter, geralmente, que partilhar o computador com dois ou mais alunos, e até à falta de tempo, que não permite explorar mais a fundo programas complexos com alunos que estão a ser introduzidos ao mundo digital. É um trabalho cansativo, pois a nossa atenção tem de estar ao máximo para que possamos dirigir o trabalho dos alunos. Mas creio ser este o melhor caminho, porque a alternativa é a info-exclusão, ou pior - um cada vez maior fosso entre a escola e as vivências dos alunos, e uma escola dita democrática e formadora de cidadãos que ensina os alunos a serem consumidores passivos. Creio não ser esse o nosso papel, creio que a escola nunca deve ensinar a consumir, mas sim a produzir, pois é esse o poder libertador da internet (ou caixinha de pandora, como possívelmente lhe chamariam os mitógrafos gregos se a internet já existisse na altura).

Os nossos alunos já utilizam estas ferramentas. Tiram fotografias, navegam à vontade pelos recantos mais arcanos da net, criam fotoblogs, participam em moblogs, utilizam todo o potencial das TI e inventam novos potenciais. O que se torna deprimente é ver que a escola, local que deveria servir para a abertura dos horizontes dos alunos, está completamente a leste desta revolução. Ainda está na fase em que se considera revolucionário o uso... do Word, e a pesquisa no google.

Dois links de descarada promoção do meu trabalho:

O Meu NomeAlgumas imagens criadas pelos alunos em Photoshop, a partir do nome.

Quinto D Power O blog da turma D, um projecto ainda muito trémulo mas que está a registar grande entusiasmo nos alunos.