sábado, 12 de novembro de 2005

Baralhar as cartas da mente

Sou um pouco assim. Há momentos em que não consigou ouvir outra coisa que não música clássica; outras vezes, é precisamente essa que não consigo ouvir. Ultimamente tenho andado embrenhado em leituras obscuras de autores de literatura fantástica quase caídos no esquecimento, mas apesar do fascínio com as palavras de Arthur Machen e Lovecraft nunca me abandonar, estou a começar a sentir uma viragem noutro sentido. Acabei de reler Ubik, de Philip K. Dick, e as temáticas de Dick, às voltas com a paranoia e os encontros e desencontros entre a realidade e a percepção de realidade estão a começar a ressoar na minha mente. Um pouco como aquela empatia que sentimos quando ouvimos um instrumento favorito a tocar uma nota especialmente bela, uma vertigem interior que nos envolve numa pequena epifania de perfeição.

Isso significa que este blog terá muito menos monstros gerados pela fantasia da mente humana daqui por diante. Agora a tónica será no questionar do que é a realidade, especialmente na realidade como um continuum de percepções consensuais. Para perceberem do que estou a falar, peguem em livros de Philip K. Dick, ou no filme fascinante que é Donnie Darko.
A morte é o fim do universo, pois quando morremos a nossa percepção do universo extingue-se. A realidade, a realidade palpável, física, a realidade que nos faz tremer de frio ou doer as mãos quando esmurramos as mesas de madeira, é ao nível da nossa mente uma elaborada ilusão que apenas se mantém porque todos concordamos no que a realidade deve ser.

De qualquer maneira, não convém levar estas ideias demasiado a sério. Deixemos que elas nos baralhem as cartas das ideias, para que saiam combinações interessantes. Mas mesmo sabendo, no nosso íntimo, que a realidade é uma ilusão consensual, vale bem a pena deixarmo-nos "enganar". Porque se a comida que comi não verdadeiramente comida, se as pessoas que me rodeiam não são verdadeiramente pessoas... eis o caminho para a paranoia e para a esquizofrenia.

A realidade está nas nossas mentes. Como se diz, a beleza está nos olhos de quem vê - e se pensarem bem nesta frase, percebem onde quero chegar. As nossas percepções constroem uma rede de informação da qual nós somos os nós de contacto.


Isto está a fazer algum sentido?