quarta-feira, 12 de outubro de 2005
O Terror
Arthur Machen, O Terror
Arthur Machen
EBook | The Terror
Nos finais de 1915, um conjunto de estranhos acontecimentos abalam as comunidades isoladas de um condado ermo do país de gales. Em plena primeira guerra mundial, na hora tenebrosa em que a alemanha parece estar prestes a derrotar a frança, e imediatamente antes da carnificina em que uma geração encontrará o seu terrível destino, algo aterrorisa toda a inglaterra.
Ninguém sabe muito bem o que provoca o terror; as autoridades, sob a justificação da manutenção da ordem pública em tempos de guerra, obrigam a sociedade a manter um manto de silêncio. Quaisquer jornais que se atrevam a abordar o assunto desaparecem permanentemente de circulação. A polícia nega estar a investigar casos de que pouco tempo antes tomara conta.
O condado fictício de Gales representa uma amostra do terror desconhecido que assombra toda a inglaterra. Nas grandes cidades, há relatos de horrendos acidentes nas fábricas de armamento, em que as vítimas estão tão desfiguradas que nem os familiares estão autorizados a revê-los antes do seu enterro. O exército guarda ciosamente as fábricas e as estradas de um inimigo invisível e insidioso. No pequeno condado isolado no norte selvagem do país de gales, o terror manifesta-se através das mortes misteriosas dos camponeses locais. Essas mortes nunca são atribuídas a assassínios; antes, tratam-se de pessoas que nos seus afazeres do dia a dia encontraram a morte sem que se descortine o porquê dos acidentes mortais. Todas as hipóteses são colocadas: há um louco assassino à solta, serão os alemães que desembarcaram e estão a minar o povo britânico, seria uma arma secreta, um raio hipnótico, a criar impulsos suicidas e assassinos na mente de pessoas perfeitamente normais. Mas as mortes misteriosas continuam, sem que se consiga descobrir a razão.
É só no fim do livro que o mistério é revelado. Só após a passagem do terror é que o personagem principal do livro se apercebe do que provocara o terror. Este personagem, no seu íntimo, não respeitara o consenso geral de que aquele terror misterioso nunca existira e consegue assim aperceber-se de um fio condutor em toda a série de mortes misteriosas.
Todas as mortes se deveram a ataques por parte de animais. Os mais insuspeitos animais, os mais tranquilos dos animais domésticos, revelaram uma sanha assassina sob uma misteriosa influência. Para nossa inquietação, nunca nos é revelada a razão dessa sanha assassina. Sabemos apenas que aconteceu, e poderá voltar a acontecer, novamente.
O conto progride de forma insidiosa, inelutável e apocalíptica. A própria natureza revolta-se, e tenta aniquilar o homem, mas este persiste, ignorando à força a mortandade que o rodeia. O consenso social imposto pelas autoridade de que nada de extraordinário se passa, todas as mortes são pefeitamente acidentais, cala os mais profundos medos do coração humano.
Arthur Machen foi um escritor e ensaísta galês, autor de clássicos da literatura de terror como O Grande Deus Pã e O Terror. Hoje quase esquecido, foi considerado um dos grandes mestres da literarura sobrenatural, e influenciou profundamente H. P. Lovecraft, que utiliza parte do imaginário de Machen no seu universo mítico. Machen inspirava-se nas paisagens e tradições do seu país de Gales natal para criar o seu universo mítico próprio, de criaturas antigas cuja existência pré-datava a humanidade e que se divertiam a atormentar os homens. A ficção fantástica de Machen não se socorre de fantasmas ou vampiros para provocar arrepios aos leitores. O arrepio é provocado pela sensação de que paralelos ao nosso mundo existem outros mundos, cujos habitantes estão dispostos a aterrorizarem-nos ou a aniquilarem-nos se lhes apetecer. Tal como em Lovecraft, autor em que o terror não vem de esqueletos animados ou fantasmas sanguinolentos, mas sim das influências tenebrosas de seres todo-poderosos que vivem além do espaço e além do tempo.
Alfred Hitchcock realizou nos anos sessenta um filme em que a chegada de uma estranha a uma cidadezinha americana desencadeia uma reacção hostil e violenta, encarnada nos pássaros que atacam todas as pessoas que encontram. É possível que a génese de Os Pássaros de Hitchcock esteja neste clássico conto de terror de Arthur Machen.