segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Os novos horários

No agrupamento de escolas onde a minha rapariga lecciona, os novos horários a contemplar as trinta e cinco horas serão assim: vinte e duas horas lectivas, como é igual para todos. Mais três horas lectivas, que no meu nível de ensino seriam extraordinárias, mas no primeiro ciclo serão recompensadas não ao fim do mês mas sim ao fim da carreira (esse momento cada vez mais longínquo). Vinte e cinco horas por semana, o que tem sido o normal no primeiro ciclo, mas... o ministério indicou às escolas que serão obrigatórias mais duas horas por semana, com os alunos. Pelas minhas contas, são vinte e sete horas lectivas - cinco acima do legislado. Pelas contas do ministério, ainda faltam vinte e três horas para o sonho das ciquenta.

Não me oponho ao cumprimento do horário na escola, apesar da nítida falta de condições para isso. Mas após as vinte e duas horas, já não poderá haver tempos lectivos, ou tempos lectivos escondidos com o rabo de fora por detrás de uma eufemista cortina de "acompanhamento dos alunos".

Não deveríamos estar a montar umas guilhotinas frente a um prédio da cinco de outubro? Parece-me que o verdadeiro objectivo do ministério da educação não é fornecer uma educação gratuita de qualidade às crianças deste país (apesar do que está escrito naquela leizita esquecida chamada constituição), como se comprova pelo alastrar dos institutos pedagógicos - na prática, escolas privadas com alunos pagos pelo estado (logo, pelos contribuintes). O verdadeiro objectivo, em consonância com a moda neoliberal do puro lucro disfarçado de optimismo mercantil e mania do empreendorismo é obrigar-nos a trabalhar cada vez mais, por cada vez menos.

Como se já não bastasse ter de suportar uma élite política que nos tenta convencer a apertar o cinto e a fazer sacrifícios em prol do futuro económico do país enquanto se abastece largamente dos recursos económicos do estado em ajudas de custo e despesas de representação muito úteis para o pagamento integral daquele audi a6 ou mercedes slk que vai tão bem com o fatito armani e a malinha cartier, que nos quer convencer que é saudável comer sandes enquanto se empanturram com champanhe e caviar.